CARE 50

A parcela de Deus em nossas vidas

Quantas vezes paramos para nos percebermos mais? Quantas vezes pensamos em como temos conduzido nossas vidas? Quantas vezes olhamos mais detidamente para dentro de nós mesmos para entendermos nossos pensamentos e sentimentos?

Indiscutivelmente, uma boa parcela dos que temos buscado aproveitar esse período de pandemia para nos aproximarmos de nós mesmos, identificamos um dos maiores geradores de desafios em nossas vidas e também uma das principais causas da ansiedade: a necessidade de querer controlar tudo.

Mas, já pensou o quanto temos controle sobre nossas vidas? Buscamos controlar o que é incontrolável.

Rememoremos, pois, algumas informações nas obras da Doutrina Espírita para que possamos melhor compreender:

Sobre a mediunidade, visão e fala: “Um médium é forte quando pode dizer corajosamente: “Quanto vos custou vir aqui, e quem vos obrigou a vir? Deus me deu uma faculdade que me pode retirar quando lhe aprouver, como me pode retirar a visão ou a palavra. Só a utilizo para o bem, no interesse da verdade e não para satisfazer a curiosidade ou servir aos meus interesses.”[i]

Sobre o poder e a riqueza: “Se Deus lhe outorgou o poder e a riqueza, considera essas coisas como um depósito, de que lhe cumpre usar para o bem. Delas não se envaidece, por saber que aquele que lhas deu também lhas pode retirar.”[ii] Algum acontecimento, um revés financeiro podem fazer tudo ruir.

Sobre a inteligência e outras faculdades: “A inteligência é rica de méritos para o futuro, mas, sob a condição de ser bem empregada. Se todos os homens que a possuem dela se servissem de conformidade com a vontade de Deus, fácil seria, para os Espíritos, a tarefa de fazer que a Humanidade avance. Infelizmente, muitos a tornam instrumento de orgulho e de perdição contra si mesmos. O homem abusa da inteligência como de todas as suas outras faculdades e, no entanto, não lhe faltam ensinamentos que o advirtam de que uma poderosa mão pode retirar o que lhe concedeu. – Ferdinando, Espírito protetor. (Bordéus, 1862.)”[iii]

Sobre a partida para o mundo espiritual daqueles que amamos: “Em vez de vos queixardes, regozijai-vos quando apraz a Deus retirar deste vale de misérias um de seus filhos. Não será egoístico desejardes que ele aí continuasse para sofrer convosco?”[iv]

Pensemos agora em algo bem simples: imaginemos que decidimos marcar com uma pessoa amiga para nos encontrarmos para uma conversa (com máscaras, mantendo distanciamento e em um local aberto, claro!). Decidir foi a única questão que tivemos controle, pois, a partir daí, tudo o que não depende única e exclusivamente de nós, teremos controle nenhum.

Pensemos juntos: a pessoa pode recusar o convite ou, mesmo aceitando, poderá ter algum imprevisto, um pneu furado, uma visita em casa, ficar doente ou mesmo ser convocada de última hora para o trabalho e não aparecer. Ou, mesmo tudo transcorrendo conforme o esperado, no fim do encontro, por uma coisa fútil, nos desentendemos. Ou, ainda, tudo pode ocorrer conforme planejado, mas vale ressaltar que não foi devido ao nosso desejo de controle.

O que sempre podemos afirmar é que a vida flui, que Deus possui planos de excelência para cada um de nós, que nos permitirão crescer e fazer brilhar nossa luz. O problema é que, no nosso desejo de controle de tudo, não permitimos (ou sequer cogitamos) a intervenção (sempre benéfica e acertada) da harmoniosa ordem de Deus.

Vale lembrar que Deus é a inteligência suprema, é soberanamente justo e bom e nos ama incondicionalmente. O plano de excelência que Ele possui para nós é sempre o melhor. Nosso objetivo aqui não é nos isentarmos de qualquer responsabilidade sobre nossas vidas, pois somos responsáveis por nossas escolhas, pensamentos e atitudes, mas permitirmos que a harmoniosa ordem de Deus possa se fazer presente em nossas vidas.

Assim, caso qualquer situação ocorra diferente do que estávamos esperando, que saibamos avaliar se fizemos a parte que nos cabia. Se o fizemos, busquemos compreender que estamos inseridos nesse fluir da ordem harmoniosa de Deus. Entender, aceitar e seguir em frente são os verbos que iremos conjugar, confiantes de que o plano de Deus é sempre de excelência e equilíbrio para todos nós.

Fraterno abraço!


[i] Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1865 > Outubro > Os irmãos Davenport.

[ii] O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo XII – Da perfeição moral > Questão 918.

[iii] O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo VII – Bem-aventurados os pobres de espírito > Instruções dos Espíritos > Missão do homem inteligente na Terra > Item 13.

[iv] O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo V – Bem-aventurados os aflitos > Instruções dos Espíritos > Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras.

Paulo Henrique de Assis

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