Orgulho: obstáculo ao progresso
O livro dos Provérbios ou Provérbios de Salomão, o segundo livro da terceira seção da bíblia hebraica e um dos livros poéticos e sapienciais do antigo testamento da bíblia cristã, foi escrito por volta de 900 a.C. Em seu capítulo 16, versículo 18, Salomão escreve: “O orgulho precede a destruição; a arrogância precede a queda.”
Em O Livro dos Espíritos, publicado em 1857, Allan Kardec questiona, na questão 785, qual seria o maior obstáculo ao progresso, ao que respondem os Espíritos: “O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre”.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, datado de 1864, no capítulo XI, Amar o próximo como a si mesmo, encontramos que o egoísmo é o filho do orgulho e causador de todas as misérias do mundo terreno.
No capítulo VIII, Bem aventurados os pobres de espírito, é informado que: “O orgulho é a catarata que lhes tolda a visão. De que vale apresentar a luz a um cego? Necessário é que, antes, se lhe destrua a causa do mal.”
Diante de tais afirmações multimilenares e tão contundentes, vêm-nos à mente dois questionamentos: se o orgulho é tão destrutivo e um obstáculo tão grande à nossa evolução, por que ainda o mantemos? E mais: como podemos fazer para reduzir sua predominância ditatorial em nós?
Sobre a primeira questão, podemos perceber no Capítulo X[i], Bem aventurados os que são misericordiosos, que “Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a dissimular, para si mesmo, os seus defeitos, tanto morais, quanto físicos”. Dessa forma, o orgulhoso não se considera orgulhoso e, em se mantendo em estado de negação, não envida tempo e energia para poder desenvolver sua antítese que é a humildade.
Pascal, no capítulo XI[ii], nos diz que “com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto, uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados laços da família merecerão respeito”, ou seja, enquanto os interesses materiais sobrepujarem os espirituais, o exercício de vencer essas duas chagas da humanidade será bastante desafiador.
Pensemos agora no segundo questionamento. Vale ressaltar que não existe fórmula mágica para se livrar de algo tão entranhado em nós por milênios. É um exercício diário. Porém, lembremo-nos que nada fere tão profundamente nosso orgulho que olharmos para dentro de nós mesmos e aceitarmos que ainda trazemos em nós muito lixo que (pelo orgulho) não aceitamos como sendo nossos. A meditação analítica de Santo Agostinho, descrita na questão de número 919a[iii] nos auxilia sobremaneira: “Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar.”
Nesse movimento, encontraremos resistências dentro de nós, mas precisamos nos lembrar o que Lázaro preconiza, no capítulo IX[iv], Bem aventurados os que são brandos e pacíficos, que “toda resistência orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida”.
A pandemia nos convida a um recolhimento, a uma reflexão para que possamos envidar tempo e energia para travarmos a maior empreitada de todos os tempos: vencermos a nós mesmos, sobrepujarmos o orgulho, olharmos o outro como um igual, a amarmos uns aos outros.
Adolfo, bispo de Argel, no capítulo VIII[v], vem em nosso auxílio: “Um único meio se vos oferece para isso, mas infalível: tomardes para regra invariável do vosso proceder a lei do Cristo, lei que tendes repelido ou falseado em sua interpretação”. E, mais adiante, nos alerta: “Abre os olhos à luz: aqui estão as almas dos que já não vivem na Terra e que te vêm chamar ao cumprimento dos deveres reais. Eles te dirão, com a autoridade da experiência, quanto as vaidades e as grandezas da vossa passageira existência são mesquinhas a par da eternidade. Dir-te-ão que, lá, o maior é aquele que haja sido o mais humilde entre os pequenos deste mundo; que aquele que mais amou os seus irmãos será também o mais amado no céu; que os poderosos da Terra, se abusaram da sua autoridade, ver-se-ão reduzidos a obedecer aos seus servos; que, finalmente, a humildade e a caridade, irmãs que andam sempre de mãos dadas, são os meios mais eficazes de se obter graça diante do Eterno.”
Em frente, meus amigos! Que saibamos escolher a melhor parte para que possamos vencer a nós mesmos.
Grande e fraterno abraço!
[i] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo X, Bem aventurados os que são misericordiosos.
[ii] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XI, Amar o próximo como a si mesmo.
[iii] O Livro dos Espíritos.
[iv] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo IX, Bem aventurados os que são brandos e pacíficos.
[v] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo VIII, Bem aventurados os que têm puro o coração.
Paulo Henrique de Assis
Página 8