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Obsessão e reconciliação

A mediunidade possibilitou, através da observação e análise, compreender que o fenômeno obsessão, presente em um planeta de provas e expiações, está intimamente relacionado com o padrão moral de seus habitantes, uma vez que a obsessão “decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau.”1

O Espiritismo não criou a obsessão. Esse fenômeno já se expressava nas diversas épocas históricas, o que é relatado na literatura em geral e nos livros religiosos, como no livro do evangelista Mateus, no capítulo IX, versículos de 32 a 34, a “Cura de um endemoniado mudo”.2 O que o Espiritismo desvela são as causas da ocorrência do fenômeno, pois seus efeitos já eram conhecidos.

Uma vez conhecendo as causas da obsessão e compreendendo que esse fenômeno nada mais é do que um acerto de contas entre credor e devedor, que pode derivar até mesmo de relações de vidas passadas, em um processo de vingança.

O Espiritismo, pelas mãos do codificador Allan Kardec, no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo3, possibilita uma melhor compreensão dos ensinamentos de Jesus, referente ao caso em tela. Ensinava o Mestre que devemos reconciliarmos com os nossos adversários enquanto com ele caminhamos, ainda encarnados. Pois, não sendo realizado essa reconciliação, a situação não resolvida prossegue no além-túmulo e o ofendido, assim que possível, busca fazer justiça com as próprias mãos através do desforço pessoal.

A obsessão não é um fenômeno sobrenatural ou extraordinário, muito pelo contrário, a influência de um Espírito desencarnado sobre o encarnado é regida pelas leis da natureza e cumpre, na economia dos mundos de provas e expiações, a função do reajustamento, daquele que infringiu a harmonia das leis Divinas com aquele que caminhava ao seu lado no transcorrer das encarnações. As reencarnações são solidárias e o Espírito é herdeiro das suas escolhas. Se sofre o constrangimento de um processo obsessivo é porque é o promotor deste evento e estará vinculado a ele, enquanto não sustar as causas que o prende ao seu obsessor e se harmonizar com o Cosmo, que vibra de forma equilibrada, constante e contínua. Essa harmonia se processará quando o Espírito não nutrir mais em seu íntimo sentimentos de mágoa, culpa e remorso, entendendo que nada fica nebuloso diante da nossa relação com o outro e com Deus.

1 – A Gênese, Capítulo XIV, item 46.
2 – O Novo Testamento, FEB, Tradução de Haroldo Dutra Dias.
3 – O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo X, itens 5 e 6.

Afonso Celso Martins Pereira

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