CARE 63

Não existem aparelhos para medir o afeto

Não existem aparelhos para medir o afeto, mas muitas pessoas pensam que sim, e, pelo jeito, até mesmo possuem um deles. Isso porque estão sempre a medir o amor que os outros lhes dedicam como se fosse possível esse tipo de medição. Frequentemente, ouvimos comentários assim:

– Meu pai prefere meu irmão a mim.

– Minha mãe ama mais minha irmã do que a mim.

– Os netos dos meus irmãos são os preferidos dos meus pais.

Colocações assim nem sempre expressam a realidade. Muitas vezes são suposições equivocadas de nossa parte. Quase todo mundo acha que é menos amado que os irmãos, primos, netos etc.

No entanto, precisamos considerar outra possibilidade: aqueles que julgamos como os preferidos podem ser os que necessitam mais, e nós estamos nos comportando como o irmão mais velho do filho pródigo da parábola evangélica, que fez um escarcéu imenso porque o pai ia assar uma ovelha em homenagem ao filho arrependido que voltava.

O que é a parábola do filho pródigo senão esse ensinamento? O irmão mais velho achava que o irmão que abandonou a família não merecia nada e ainda assim foi ajudado pelo pai. Ele se incomodou porque ainda estava vinculado a ideia de troca-troca, de merecimento. Havia se esquecido que o amor deve transcender o merecimento, e se manifestar quando for necessário, independentemente de qualquer coisa.

Depois de ler o evangelho de Lucas inteiro pela primeira vez, certa adolescente disse: Jesus tinha uma tremenda queda radical por maltrapilhos!

Essa jovem chegou a uma conclusão importante. Jesus gastava uma porção disparatada de tempo com gente que é descrita nos Evangelhos como sendo: pobres, cegos, coxos, leprosos, famintos, pecadores, prostitutas, cobradores de impostos, perseguidos, marginalizados, cativos, possuídos por espíritos imundos, todos os oprimidos e sobrecarregados, a ralé que não tem qualquer conhecimento da lei, multidões, pequeninos, menores, últimos e ovelhas perdidas da casa de Israel.

Um dos mistérios da tradição do evangelho é essa estranha atração de Jesus pelos que não tinham nada de atraente, esse estranho desejo pelos que não eram em nada desejáveis, esse estranho amor pelos que não tinham nada de amável.

Mas não era uma questão de amar mais ou menos este ou aquele grupo.

A condição de Jesus é a do amor incondicional. Simplesmente porque aquelas pessoas encontravam-se naquele cenário mais necessitadas. O socorro vem quando necessitamos dele. Não quando merecemos. Importante pensar sobre isso.

Ricardo Baesso de Oliveira

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