CARE 62

Fazer bem

“E admiravam-se sobremaneira, dizendo: Ele faz todas as coisas bem (…)” (Marcos 7:37)

Após a cura do surdo, na região de Decápolis, a admiração das pessoas pelas atitudes de Jesus era tão grande que mereceu registro no evangelho de Marcos. Mas, de forma significativa, elas não se referiam apenas às curas: Ele fazia “todas as coisas” bem.

Este aspecto do ensinamento de Jesus passa algumas vezes despercebido. Dando muita importância apenas às suas palavras, suas atitudes são pouco estudadas ou compreendidas. No entanto, para os estudantes dos evangelhos, observar as ações – e as reações – de Jesus (ou pelo menos, como elas foram anotadas) é importante parte do aprendizado.

Reparemos que não é apenas “fazer o bem”, mas “fazer bem”. Colocando a caridade como uma prática essencial, o Espiritismo nos sugere que estejamos atentos a todas as oportunidades de praticar o bem. No entanto, como estamos lidando com as coisas cotidianas, as obrigações comezinhas?

Uma mensagem atribuída a “Um Espírito Protetor”, nos lembra: “Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa santificar.” (1) Isto é um lembrete de que, enquanto encarnados, estamos sujeitos a situações e circunstâncias materiais que precisam do nosso cuidado, da nossa atenção e da nossa dedicação, ou seja, atitudes semelhantes a que temos em relação às questões ditas espirituais.

Este, então, se torna um exercício nem sempre simples: quanto de atenção devemos dar às “coisas do mundo”? Não corremos o risco de desenvolver um apego indesejado em relação a situações que são passageiras? Como distinguir realmente quando uma atitude é mais “material” ou mais “espiritual”?

Acreditamos que esta dicotomia é desnecessária. Estamos mergulhados em um corpo físico denso, subjugados por uma intensa influência da matéria, vivendo numa sociedade humana que estabelece leis e códigos de conduta, convivendo com Espíritos de diferentes estágios evolutivos, com variada compreensão sobre o mundo e sobre a realidade espiritual. É muito difícil imaginar que existe uma separação clara e estrita entre o que é material ou não. A solução mais simples é, a exemplo de Jesus, “fazer tudo bem”.

Onde formos chamados a colaborar, exercendo nossas atividades, seja no campo familiar, social ou espiritual, façamos o melhor que seja possível. Sem uma neurose de perfeição, impossível em nosso estado atual, mas oferecendo sempre o que tivermos de melhor. Sem ideias de negociações, visando um bem-estar espiritual futuro, como ensinavam as religiões ortodoxas. Simplesmente “fazendo bem” o que nos cabe, pois afinal, “fazer bem” também nos faz bem.

(1) O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. 17, item 10.

Ely Edison Matos

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