CARE 61

A cada dia basta o seu mal

Há pessoas que não precisam de problemas; elas são o seu próprio problema. Nesse particular, destaco o hábito da preocupação. Acaba sendo um vício. Há pessoas que são viciadas em se preocupar com alguma coisa. Quando não têm com o que se preocupar, inventam coisas ou ficam sempre na expectativa de que algo ruim vai acontecer.

Se perguntamos, numa consulta, a uma mãe ansiosa se a filha teve pneumonia, ela responde:

Ainda não, doutor.

Se indagamos a um jovem temeroso que se iniciou em um emprego novo se está tudo bem, ele responde:

Por enquanto, está!

Eu tenho uma paciente que é tão atormentada por preocupações, que o filho disse para ela:

– Mamãe, vamos criar para a senhora uma firma. Vai se chamar Disque preocupação. Quando alguém precisar se preocupar com alguma coisa, telefona para a senhora e aí a senhora se preocupa para ele.

Um médico canadense, que atendia muitas pessoas que adoeceram por excesso de preocupações, resolveu fazer um estudo. Procurou esses pacientes, vinte anos depois, para saber deles se o que eles temiam aconteceu de verdade. E verificou, surpreso, que mais de oitenta por cento deles disseram que não. Aquilo que eles mais temiam nunca aconteceu.

O empresário Henry Ford disse, certa feita:

–  Minha vida foi constituída de cem por cento de preocupações. Noventa e nove por cento delas nunca aconteceram.

Eu me lembro de um colega de infância que tinha um grande medo: ao completar dezoito anos, servir o exército. Talvez fosse um trauma psíquico de reencarnação passada, mas o certo é que ele sofria bastante. Tinha pesadelos com isso, suava em bicas e seu coraçãozinho batia acelerado quando alguém aventava essa possiblidade.

Pois bem, quando completou os dezoito anos e foi oferecer o pescoço para as forças armadas, recebeu o comunicado de que seria dispensado.

Não me refiro aqui, certamente, à preocupação natural, que denota responsabilidade perante a própria vida, que é um sentimento normal em quem leva a vida a sério. Deus me livre das pessoas que nunca se preocupam! Refiro-me à preocupação doentia, que atormenta, que perturba e que faz sofrer, desnecessariamente.

Jesus, sabendo das angústias que o medo e esse tipo de preocupação causam, deixou estas belas palavras: “Não se preocupem com a comida e com a bebida que precisam para viver nem com a roupa que precisam para se vestir. Afinal, será que a vida não é mais importante do que a comida? E será que o corpo não é mais importante do que as roupas?

Vejam os passarinhos que voam pelo céu: eles não semeiam, não colhem, nem guardam comida em depósitos. No entanto, o Pai de vocês, que está no céu, dá de comer a eles. Será que vocês não valem muito mais do que os passarinhos?

Por isso, não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades.”

Ricardo Baesso de Oliveira

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