CARE 58

Respeitar é ver com outros olhos

Conversando, recentemente, com uma companheira do movimento espírita, contou-me ela que foi convocada pelo diretor de uma grande empresa de Juiz de Fora, onde ela desenvolve atividades profissionais nos recursos humanos, a selecionar, através de entrevista, um profissional para a função de jornalista.

Dezenas de candidatos se apresentaram. Momentos antes de iniciar a seleção, foi convocada à sala do presidente da empresa e ouviu dele a seguinte recomendação:

– Rapazes cabeludos ou com tatuagem e moças de piercing ou chinelinho de dedos elimine de cara.

A expressão “elimine de cara” nos coloca diante de um sério problema moral: a exclusão daquele que nos parece inadequado, diferente, ou simplesmente nos incomoda. É cruel, pois significa o mesmo que não ouça, não deixe que se mostre, não permita que demonstre seu talento, julgue unicamente pela aparência.

Estudos têm demonstrado que mulheres de boa aparência se dão muito melhor na carreira profissional que as outras e recebem penas mais leves quando condenadas por crimes comuns. Homens altos conseguem progressão nas empresas muito mais rapidamente que os de baixa estatura. Mulheres com excesso de peso, pessoas de cor negra ou trajando roupas modestas não são acolhidas com mesmo interesse quando vão às lojas fazer compras. Rapazes e moças ainda são excluídos pela própria família por questões sexuais.

Minha esposa, que teve recusada sua pretensão a uma vaga como educadora em uma escola tradicional de nossa cidade, ouviu da responsável pela instituição a seguinte justificativa:

– Seu problema é que você não é simplesmente espírita, você é uma evangelizadora espírita. E, além disso, seu esposo é expositor espírita. Você entende como são essas coisas.

Atendia certa feita, no consultório, quando entrou uma jovem portadora de grave obesidade mórbida. Ao entrar em minha sala, notei em seus olhos semblante de alívio, que ela justificou:

– Graças a Deus vou poder sentar em sua sala. Eu não caibo em cadeiras com proteção lateral. Por isso deixei de ir aos cinemas e tenho que permanecer de pé em muitos locais aonde vou.

Até que ponto temos nos preocupado com o que o outro é na sua expressão profunda, sua competência, sua humanidade, suas virtudes? Até quando vamos excluir pessoas pela cor, pela idade, pela orientação sexual, pela religião ou pela aparência?

Na superação do preconceito e da discriminação se destaca a atitude mental do respeito. A palavra respeito vem do latim respectus, que é a união dos termos , que significa de novo e espectus, que significa ver. Respeitar é ver de novo, ver com outros olhos, olhar de forma diferente, identificando a humanidade que existe em todas as pessoas e que precisam ser consideradas pelo seu valor humano, como filhas do mesmo Pai, e como todos nós, herdeiras do Universo.

Respeitar não significa concordar plenamente com outra pessoa, mas significa não discriminar, ofender ou impedir que uma pessoa realize suas próprias escolhas, seja o que é e viva como deseja viver.

Sobre o respeito, Simone Weil, pensadora francesa do século passado, escreveu:

– A mesma quantidade de respeito e de atenções é devida a todo ser
humano, porque o respeito é devido ao ser humano como tal e não tem graus.
Por consequência, as diferenças inevitáveis entre os homens jamais devem ter o significado de uma diferença no grau de respeito.

Ricardo Baesso de Oliveira

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