CARE 58

A justiça e a redenção

Estava eu em meu trabalho cotidiano. Numa oportunidade, conversava com um cliente sobre as eventualidades da vida. Como boa parte da humanidade, seguia o ainda jovem homem a conjecturar sobre suas dúvidas a respeito das crenças pessoais e coletivas e o que realmente é melhor fazer.

Mas, o incauto companheiro demonstrava que essa inquietação íntima logo passava. Preferia, então, dedicar-se não às oportunidades de progresso pessoal, mas aos prazeres que o mundo apresenta. “Ah, como as coisas estão mais fáceis hoje. É só sair de casa que encontramos prazeres que nos deleitam…”

Ainda solteiro, com um bom emprego, resolveu-se por aproveitar a vida com “amigos” que lhe compartilhavam as mesmas intenções, a caça aos prazeres sexuais. Mesmo sentindo-se um pouco desgastado com esse comportamento que já vinha de um bom tempo, a necessidade de continuar fazia-lhe insistir nisso.

E ouvindo-lhe contar suas histórias, como se mostrasse um troféu que mostrasse suas vitórias, lembrei-me de um poema que li há tempos. O autor, Epifâno Leite[i], já desencarnado, dedicou alguns versos a um companheiro que, dois séculos antes, havia abusado dos valores físicos, “utilizando o sexo unicamente para criar o infortúnio alheio e que encontrava-se agora na prisão sem grades de um cérebro doente, em provação redentora”. Segue, então, o poema escrito por este autor, através da psicografia de Chico Xavier, em 30 de agosto de 1969.

Vejo-te, nobre, amigo a despontar da bruma.

Castelão sedutor, de conquista a conquista,

Não achas coração de mulher que resista…

Segues… E no teu passo a treva se avoluma…

Noivas, esposas, mães… Das vítimas, em suma,

Onde falas de amor, aumenta-se-te a lista…

Mas chega a morte e vais por estrada imprevista,

Em que a sombra te espera e a dor te desapruma.

Quis ver-te reencarnado e encontrei-te, inda há pouco…

Vagueias, mundo afora, abandonado e louco,

Espolinhas-te em lama e choras no monturo!…

Mas agradece a Lei que te segrega em prova;

Na cela de aflição que te apura e renova,

Descobrirás, de novo, as fontes do amor puro.

Finalizando, sempre é bom lembrar-nos das palavras do Mestre: “Mas, buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas”[ii].


[i] Epifânio Leite de Albuquerque nasceu e morreu em Fortaleza, Ceará (1891-1942). Autor do livro de poesias “Escada de Jacó”, membro da Academia Cearense de Letras, foi juiz de Direito em Baturité, no mesmo Estado. Sua poética se caracteriza pelo rigor formal e a delicadeza de sentimentos.

[ii] Mateus 6:33.

Fernando Emílio Ferraz Santos

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