CARE 57

Assim falando, assim fazendo

No Estatuto da Criança e do Adolescente muitas coisas são citadas com o objetivo de proteger os Espíritos em início de uma nova encarnação. Isso é muito salutar, tendo em vista que a sociedade ainda não se preocupa tanto com seus membros em início de vida, provavelmente, porque eles ainda não produzem e só consomem. Isso nos leva a refletir: como eram as sociedades do passado remoto em relação a esse quesito?

Quantos de nós, esquecidos dos deveres para com os filhos, damo-nos a viver nossas vidas da forma que bem nos agrada. Quando Jesus disse que aquele que deseja segui-lo deve negar-se a si mesmo, estava se referindo a coisas que nem de longe supomos fazer parte do contexto de suas palavras. Quando vamos receber um filho, estaremos recebendo um filho de Deus com suas exigências e cuidados. Ao acalentarmos nossos filhos praticamente estamos dizendo ao Pai que abraçamos o dever de educá-los da forma como Ele espera de nós.

E vamos naquelas promessas ou não. E falamos e fazemos ou não. Cada lar tem uma história para contar. Qual história conta o meu lar? Há quem diga que a criança ao nascer não traz o manual. Porém, há nessa afirmativa algo que precisa ser revisto. Os pais atentos certamente lerão esse manual nas primeiras expressões da sua criança. Isso é lógico, tendo em vista que são eles Espíritos antigos e chegam com suas posturas e propostas. Basta observá-los. Eles nos dão sinais o tempo todo e o fazem pelo sorriso, pelo choro, pelas expressões faciais, pelo movimento dos braços e pernas, enfim, cada um diz o que é a cada instante.

Imagine que uma criança renasça com uma inteligência que precocemente demostra a todos. Essa inteligência multifuncional pode exprimir-se de várias maneiras. Qual deve ser a atitude dos pais senão preservar essa criança? Pais espíritas sabem bem que esses Espíritos já trazem sua bagagem e que se as exprimem com mais intensidade nas fases da infância. Apenas estão pedindo cuidados maiores e não exposições desnecessárias e perigosas.

Sobre este tema O Livro dos Espíritos nos oferece conteúdos profundos, principalmente nas questões 582 e 583 nas quais nos diz nossos deveres e os deveres dos filhos para com os pais. Esta deve ser uma relação aberta, transparente e específica para cada filho, uma vez que são individuais e com histórias próprias. Não é muito produtiva a comparação de um filho com outro em quaisquer que sejam os quesitos. A questão da individualidade somada ao tempo do existir de cada um deve ser totalmente respeitada. Com cada filho ou filha uma atitude diferente e o importante é que essas atitudes atendam o potencial e a necessidade de cada um na encarnação que iniciam.

Nossos filhos não são nossos bibelôs e tampouco criaturas que nos atrapalham com suas exigências constantes. Eles assim o fazem porque confiam nos pais e pedem a eles cuidados e exemplos para que possam crescer. No futuro responderão como foram tratados em suas infâncias nas casas que os acolheram. Eis aí o perigo ou a tranquilidade pelo dever mal ou bem cumprido.

É bom pensarmos que um dia retornaremos como crianças e, certamente, iremos querer atitudes coerentes e respeitosas dos nossos futuros pais. Para tanto, respeitemos a infância e adolescência dos nossos filhos sem nos apegarmos tanto a eles, deixando-os conhecer o mundo para se autoconhecerem. Mas, não permitamos que ideias contrárias à ética e a moral lhes sejam passadas por mentes infelizes e confusas ou ainda interesseiras.

Paz no lar. Paz nos nossos corações. Se falamos, devemos fazer. Esta é a esteira por onde transitam a lógica e a justiça e o amor a elas correspondente.

Guaraci de Lima Silveira

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