CARE 56

Sol e chuva

“(…) porque ele faz nascer o sol para maus e bons e chover em cima dos justos e injustos.” (Mateus 5:45)

Existem dois aspectos da Lei de Causa e Efeito que precisam ser melhor considerados pelos estudantes espíritas. O primeiro diz respeito à associação exclusiva da Lei apenas às aflições. O segundo se refere a uma visão individualista da aplicação da Lei.

“Causalidade” é um tema complexo, que tem provocado debates no campo filosófico ao longo dos séculos. A ideia de que um evento “A” causa um evento “B” significa, em termos gerais, que o evento B só aconteceu porque o evento A aconteceu antes. Embora pareça simples à primeira vista, se analisarmos um pouco, é muito difícil estabelecer esta relação de forma absoluta, na maioria das situações. O evento B pode estar apenas “relacionado” ao evento A, ou o evento B pode ter outras inúmeras causas, além do evento A. Apesar dessas dificuldades, a ideia de “causa e efeito” é central para o Espiritismo, tendo Allan Kardec adotado-a como um axioma.[i] [ii]

Assim, ao estudarmos as aflições sofridas pelos Espíritos[iii], aprendemos que existem causas “anteriores” e causas “atuais” para estas aflições. As aflições não são um “castigo” divino e nem ocorrem aleatoriamente, na base da sorte (ou azar). Elas possuem um motivo e o mecanismo da reencarnação permite vermos a justiça relacionada a estas aflições. Enfermidades físicas e mentais e perdas afetivas ou financeiras podem ser abordadas a partir de uma perspectiva mais ampla.

Porém, muitos estudantes esquecem que a causalidade não está associada apenas à dor. O cumprimento do dever, a conduta moral adequada, o aprendizado constante das questões espirituais e materiais, o auxílio de qualquer natureza prestado ao próximo e várias outras ações positivas também geram reações. O estado de equilíbrio e saúde, a consciência tranquila, a força de vontade, a lucidez para tomar decisões não são “presentes” divinos: são conquistas espirituais resultantes da mesma Lei de Causa e Efeito.

Por outro lado, precisamos estar atentos que as dores não são apenas consequências de ações exclusivamente individuais. Em especial, para nós que estamos reencarnados, o simples fato de estarmos usando um corpo de matéria densa já constitui um tipo de “sofrimento”, uma vez que os nossos potenciais espirituais ficam extremamente limitados. Como lembra Joanna de Ângelis, “todos sofrem, enquanto estão no mundo”[iv].

É o que Jesus também alerta no sermão do monte – citado acima. A providência divina oferece as mesmas oportunidades (o sol) para todos, bem como todos precisarão enfrentar as mesmas vicissitudes (a chuva), independente da condição moral individual (bons ou maus, justos ou injustos). Kardec adota premissa semelhante, no texto da questão 924[v]. Não se trata, então, de uma questão puramente individual.

“Mas onde estaria a justiça?” poderiam perguntar alguns. A questão é válida para aqueles que vêem na dor apenas uma espécie de castigo devido a atos morais. No entanto, cunhando a expressão “dor-evolução”, o instrutor Druso explica que “a dor é ingrediente dos mais importantes na economia da vida em expansão”[vi]. Não devemos entender que a dor seja “causa” da evolução, mas ela é consequência – ou seja, efeito – da experiência na matéria e assim, de certa forma, ela é inevitável. Experimentar a dor e aprender a superá-la quando preciso, faz parte de nosso aprimoramento.

Como visto, quanto mais conscientes nos tornarmos dos mecanismos gerais da evolução – como, por exemplo, a Lei de Causa e Efeito – mais fortalecidos estaremos para enfrentar os desafios do crescimento espiritual.


[i] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec. Questão 4.

[ii] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec. Conclusão. Item IX.

[iii] O Evangelho segundo o Espiritismo. Allan Kardec. Cap. 5, itens 4 a 10.

[iv] Vida Feliz. Joanna de Ângelis/Divaldo Franco. Mensagem CXLVIII.

[v] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec. Questão 924.

[vi] Ação e reação. André Luiz/Chico Xavier. Cap. 19 – Sanções e auxílios.

Ely Edison Matos

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