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Mestres

“Quanto a vós, não vos deixeis tratar por ‘mestres’ (…)” (Mateus 23:8)

O capítulo 23 do Evangelho segundo Mateus traz duras críticas de Jesus aos escribas e fariseus. No versículo citado, ele adverte seus discípulos para que não sejam como aqueles que, segundo ele, gostavam de serem chamados ‘mestres’ pelos homens. É uma advertência que deve ser considerada por todos os estudantes cristãos, pois enfrentamos dois desafios: a “ilusão do conhecimento” e a excitação do orgulho.

Como sabemos, o progresso espiritual é dividido didaticamente em dois aspectos: o progresso intelectual e o progresso moral[i]. De maneira figurada, podemos dizer que o progresso intelectual é obtido pela aquisição de conhecimento. Aprendendo com a experiência de outros Espíritos e com a nossa própria experiência, conhecemos, raciocinamos e compreendemos cada vez mais sobre a vida e suas diversas expressões. Por outro lado, o progresso moral se dá pela capacidade de aplicar tal conhecimento em benefício do próximo e de si mesmo. Via de regra, o progresso moral acompanha o progresso intelectual.

A “ilusão do conhecimento” se dá quando julgamos que o conhecimento intelectual representa inteiramente o progresso espiritual. Porque conhecemos mais – e os espíritas, sem pretensão, conhecem mais sobre a realidade espiritual que os não-espíritas – é muito fácil achar que estamos em uma condição melhor. Para ilustrar porque isso é uma ilusão, imaginemos que o progresso espiritual seja como subir uma montanha. Quanto mais subimos, mais conhecemos sobre a paisagem e sobre a própria montanha. O progresso puramente intelectual seria como andar no mesmo nível, sem subir. Possivelmente saberemos um pouco mais sobre a montanha e a paisagem, mas estaremos, literalmente, no mesmo patamar. A forma ideal de subir a montanha seria fazer uma espiral em torno dela, circundando-a num nível mais alto a cada passo.

Além disso, a “ilusão do conhecimento” tem outros efeitos negativos. Ela nos faz pensar que já sabemos o suficiente, que não é preciso aprender mais, que outras ideias e pontos de vista estão simplesmente errados. Essa ilusão cria crenças limitantes, incentiva a criação de nichos de conhecimento, estimula os preconceitos. E, no limite, faz as pessoas acharem que somos ‘mestres’ em alguma coisa. Um verdadeiro perigo.

Outro desafio é a excitação do orgulho. Na fase de transição evolutiva em que nos encontramos, saindo das vivências puramente instintivas e começando a desenvolver a consciência reflexiva, nossa tendência ao orgulho e ao egoísmo (que “andam de mãos dadas”[ii]) ainda é grande. Como parte natural do nosso desenvolvimento psíquico, vamos nos entendendo como seres individuais, separados da “massa”. Então surge a necessidade de valorizarmos as características que nos são próprias. Queremos (e precisamos) nos distinguir dos demais, para nos conhecer. É um período em que somos muito sensíveis ao valor que os outros nos dão, mesmo que ainda não tenhamos adquirido tal valor.

Não é difícil imaginar o risco para nosso orgulho, se os demais começam a nos considerar ‘mestres’. Jesus está bem ciente deste risco, e por isso nos deixa a advertência incisiva. O perigo de nos acharmos ‘mestres’, são os mesmos já citados para a “ilusão do conhecimento”.

A prevenção é conhecida: o reconhecimento do próprio valor – nem mais, nem menos. Sem falsa modéstia, julgando-nos abaixo do que somos apenas para parecermos humildes (que é outro sinal do orgulho), e sem presunção de saber ou fazer algo que está acima dos nossos limites de conhecimento ou ação. Na nossa condição atual, estamos no início da subida da montanha. Então é preciso adquirir consciência de como subir de forma proveitosa.


[i] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec. Questão 780.

[ii] O Evangelho segundo o Espiritismo. Allan Kardec. Cap. 11, it. 12. Mensagem de Pascal.

Ely Edison Matos

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