Nosso olhos
Não vemos. Não vemos como deveríamos ou como poderíamos. Não temos evolução para isso.
O vento bate em nosso rosto, mas não o vemos, só o sentimos. O aroma das flores enche nossas narinas, mas não vemos o aroma. Só o percebemos. Vemos o efeito da energia elétrica, mas não a vemos. Só percebemos. Ou sentimos.
As forças divinas estão em toda parte. Isso poderíamos ver, mas nos furtamos a isso. Em geral, o tipo de vida que levamos atualmente nos constrange a seguir uma rotina cruel que nós mesmos criamos. Nós nos permitimos cair num mecanismo de sobrevivência antinatural. Pressa, horários escravizantes, compromissos que nem sempre escolheríamos, tecnologias que seriam para nos facilitar, nos escravizam. O dia termina e sentimos que faltou muita coisa.
E, com isso, o estresse, a ansiedade e a angústia do tempo que se vai e não volta.
Nossos olhos estão habituados a ver o que veem todos os dias: a rotina inflexível. Nossos olhos se viciaram em buscar aquilo que foram adestrados desde pequenos. As regras, as leis, a cidadania, o bom comportamento… tudo muito certo e necessário. Mas, não podem ser engessados. Há que usarmos o senso e a sensatez.
Nossos olhos veem o mundo material, a vida corporal, o bruto. Porém, precisamos aprimorar “nossos olhos” da percepção, da inspiração, da intuição. Do “ver além”. Quem sabe poderíamos até criar um neologismo, a transvisualidade? O enxergar além. Vai além de ver e ser visto.
Mas, isso não é novidade. Jesus já nos ensinou isso. A enxergar além. Ao dialogar com os discípulos, disse: “(…) bem-aventurados os vossos olhos, porque veem. (…) Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”. (Mateus 13, 9-17)
Se praticarmos a transvisualidade com seriedade e afinco, poderemos, com muita serenidade, enxergar os obstáculos do nosso dia a dia sem nos desesperarmos, enxergar mais à frente e evitarmos deslizes em equívocos que trariam sofrimento.
Ao exercitarmos o “enxergar além”, poderemos perceber, numa circunstância material, um encadeamento da vida espiritual interagindo-se e entrelaçando-se. E assim, entender com muito mais profundidade os postulados que os Espíritos Superiores deixam para nós.
Por exemplo, estudar Kardec é transvisualizar. É aprimorar nossos olhos a enxergarem com mais acuidade.
Uma das grandes máximas da doutrina espírita é a lei do progresso. Todos vamos progredir e nos purificar. E com isso nossos olhos verão mais e melhor. Observemos a resposta da pergunta 247 de O Livro dos Espíritos: “No Espírito, a faculdade de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso. É uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange simultaneamente o espaço, os tempos e as coisas, lucidez para a qual não há trevas, nem obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a visão se dá pelo funcionamento de um órgão que a luz impressiona. Daí se segue que, não havendo luz, o homem fica na obscuridade. No Espírito, como a faculdade de ver constitui um atributo seu, abstração feita de qualquer agente exterior, a visão independe da luz.” (grifos nossos)
Fernando Emílio Ferraz Santos
Página 3