A fila

Diante da realidade do Espírito encarnado neste orbe, presenciamos situações que se destacam perante nossos olhos, na busca do primeiro lugar na fila das satisfações materiais e emocionais, com títulos honoríficos e posses materiais, bem como apropriação dos sentimentos alheios para atenderem os prazeres sensoriais e o conforto emocional diante dos desafios encontrados em sua jornada.

No livro Atos dos Apóstolos, o capítulo 9 nos apresenta o doutor da lei judaica, Saulo de Tarso, que disputava com seus pares o primeiro lugar na fila, o que lhe garantiria prestígio e posição social entre os judeus. Após promover inúmeras ações que contrariam a Lei Divina, como tortura e assassinato, em defesa de uma posição temporal, ao tentar executar outro empreendimento dessa envergadura, o que lhe garantiria ainda mais destaque, teve a oportunidade de encontrar Jesus às portas de Damasco.

Nós no século XXI, ainda estamos envolvidos por uma névoa, talvez ainda mais densa do que a que obscurecia a visão de Saulo de Tarso. A pós-modernidade nos oferece a cultura do espetáculo, uma sociedade líquida (conforme a caracteriza alguns estudiosos), onde o imediatismo, o eterno presente transforma as relações humanas em uma necessidade de agrados sensoriais e emocionais, onde o objetivo pessoal é a satisfação egóica do “eu”. Tal comportamento leva a uma exacerbação da busca pelo primeiro lugar na fila das conquistas efêmeras, que ditam as regras na pós-modernidade.

Independente da época histórica, estar na fila em busca de prestígio e satisfação temporal não oferece ao Espírito a real conquista que é a harmonia. Essa será alcançada quando abandonarmos a fila, porque, quem está na fila, em última instância, tem o objetivo de ser servido ou agraciado.

Saulo de Tarso, que mais tarde, após o encontro com Jesus, adota o nome de Paulo de Tarso, abandona a fila e passa a ser um servidor. Ao mudar a sua posição, Paulo não encontrou facilidade em sua jornada, muito pelo contrário, encontrou enormes desafios, os quais pôde superá-los, não em virtude dos seus títulos acumulados, mas porque não sofria a inquietação na alma de ocupar algum lugar na fila.

Paulo em uma reencarnação tomou a decisão que transformou sua jornada evolutiva. Nós, quando vamos abandonar a fila? Com certeza também já nos encontramos com Jesus na estrada da vida.

“… quem quiser tornar-se o maior entre vós, será vosso servidor, e quem quiser ser o primeiro entre vós, será o servo de todos.”  (Mc. 10:43-44).

Afonso Celso Martins Pereira

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