O vazio existencial
Existir é a possibilidade suprema do Espírito imortal. Uma vez criado, o fluxo do universo, permeado pelo sopro divino, lhe atribui a existência plena em sua individualidade, sobre a qual é responsável e deve lhe garantir o referido sentido existencial.

Diante dessa possibilidade bendita, Jesus Cristo afirmou [1]: “O ladrão não vem senão a fim de roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.”
Entretanto, na contemporaneidade, o contexto sociocultural nos apresenta o ladrão que rouba, mata e destrói. Esta figura não representa um ser específico, mas a qualificação contextual do momento, como bem esclarece o Espírito Joanna de Ângelis [2]: “O conhecimento rápido e extremamente volumoso quão variado não tem sido digerido de forma adequada, e eis que surgem inquietadores: a insatisfação, a frustração, ao lado do medo, da incerteza, do vazio existencial.”
Essa sociedade, caracterizada pelo imediatismo e pelo individualismo, dentre outros aspectos, transborda para as relações interpessoais extremistas que, quando se rompem em virtude de uma instabilidade de laços afetivos e morais, unilateralidade de benefício, fazem emergir o vazio da existência.
As relações entre membros de grupos sociais se pautam, em sua generalidade, no sentido em que o outro se configura como objeto para as suas necessidades emocionais. Por conseguinte, quando ocorre a perda ou o afastamento desse objeto, por diversos motivos, aquele que o usava para suas necessidades narcísicas se deparará com o vazio, possibilitando margem a devaneios de baixa autoestima, frustração, decepção e desregulação emocional, que se desdobram muitas vezes em psicopatologias graves, inviabilizando a sua jornada.
Entretanto, a autora espiritual convoca todos aqueles que ainda se encontram nessa condição a alterar o seu estado vegetativo para uma nova dinâmica de autorrealização, ou seja, deixar de ser vítima do ladrão social que rouba e mata a fé e a esperança, subtraindo o sentido da vida, para viver a vida que Jesus Cristo lhe oferta em abundância.
Para tal desiderato, Joanna de Ângelis [3] recomenda, como terapêutica da vida em abundância, o que Cristo nos ensinou: “Assim, o amor ao próximo, como decorrência do autoamor, faz-se terapia preventiva e curadora para quaisquer existências vazias, que se consomem na angústia, em sofrimentos indescritíveis.”
Quando o outro deixar de ser objeto e for integrado ao seu mundo íntimo, não existirá perda nem afastamento, somente a plenitude da experiência vivida.

Referências bibliográficas:
[1] O Novo Testamento, João 10:10, FEB, Tradução de Haroldo Dutra Dias, 1ª ed.
[2] Vidas Vazias, Divaldo Franco/Joanna de Ângelis, 1ª ed., LEAL.
[3] Vidas Vazias, Divaldo Franco/Joanna de Ângelis, 1ª ed., LEAL.
Afonso Celso Martins Pereira
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