CARE 77

Desperta, tu que dormes na matéria

O contexto sócio-histórico que a humanidade terrena vivencia em sua totalidade apresenta a todos os seres humanos um cenário típico material, contribuindo para o entorpecimento diante dos infinitos estímulos e possibilidades, o que caracteriza um automatismo no sentir e agir, definindo, em sua generalidade, a forma de ser e estar no mundo.

Em cada época, os seres humanos convivem com as especificidades do momento histórico. Não obstante, as diretrizes divinas, que convocam o despertamento do ser espiritual, sempre estiveram presentes nas referidas épocas, por meio dos profetas, dos apóstolos e do próprio Cristo. Na modernidade, o Espiritismo se apresenta como aquele que convoca, por meio da fé raciocinada, o despertar do Espírito adormecido, desvelando a sua condição de ser imortal.

O Apóstolo Paulo, em sua carta aos Efésios, quando faz a tratativa do mistério da salvação dos gentios, convoca a todos: “Por isto (a Escritura) diz: Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará” [1].

Diante do que as escrituras solicitam, o despertamento de Lázaro [2] por Jesus possibilita uma análise psicológica que transcende o efeito físico da letargia, não se resumindo à questão de vida ou de morte, mas à jornada existencial do espírito, que, a partir do despertar da consciência, esta saia do sepulcro da sombra e venha para a luz da realização evolutiva.

Não basta apenas despertar, mas é preciso sair da sombra para a luz, por meio da ampliação consciencial e de atitudes, para que os opostos, sombra e luz, se integrem em uma totalidade espiritual, em sua forma real de ser e estar no universo divino, mesmo percorrendo estágios terrenos na matéria.

O despertar, como nos convoca Paulo, do entorpecimento das sensações e dos prazeres dos sentidos, que representam ao espírito relativa saciedade, configura-se como proposta mais profunda para o ser imortal. Esse despertar não é permanecer na superficialidade instintiva de um processo reencarnatório: nascer, viver e morrer.

Allan Kardec [3] apresenta as características do Espírito Imperfeito: “Predominância da matéria sobre o Espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhes são consequentes”. Logo, a convocação é experienciar as vicissitudes da influência da matéria e a escolha consciente e evolutiva entre o bem e o mal, de forma assertiva.

Referências bibliográficas:

[1] Bíblia Sagrada, Epístola aos Efésios, Capítulo 5, Versículo 14, 5ª ed., Editora Ave Maria.

[2] Novo Testamento, Evangelho de João, Capítulo 11, tradução Haroldo Dutra Dias, FEB. [3] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, tradução Guilhon Ribeiro, FEB.

Afonso Celso Martins Pereira

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