Adolescência e suicídio
O fenômeno do suicídio é reconhecido como um problema de saúde pública. No Brasil, as taxas de suicídio de adolescentes aumentaram de forma significativa nas duas últimas décadas, conforme relatório técnico [1] da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), publicado em setembro de 2024.

Segundo alguns teóricos, a adolescência, como uma das fases do desenvolvimento humano, caracteriza-se como um período de intensa complexidade, no qual o jovem busca pela sua própria identidade, ocorre a separação progressiva dos pais, o avanço da sexualidade e uma inserção maior na sociedade contemporânea, dentre outros.
De acordo com o artigo acadêmico [2] que buscou compreender os fatores comuns associados ao suicídio na adolescência no contexto pós-moderno, a partir de uma revisão bibliográfica, ganham destaque os fatores depressão, conflitos familiares e relação entre os pares, sendo o primeiro o produto dos demais fatores.
Diante do exposto acima, observa-se que os conflitos familiares têm um peso bastante significativo no fenômeno em tela. Para tanto, podemos buscar na doutrina espírita uma reflexão para amenizar, dentro do possível, esses conflitos familiares que se caracterizam como campo fértil, não exclusivo, relacionado ao suicídio de adolescente.
Hermínio Miranda, em sua obra, apresenta que: “Esses espíritos ou almas que nos são confiados… […] Eles já existiam antes, em algum lugar, têm uma biografia pessoal, trazem vivências e experiências e aqui aportam para reviver e não para viver. Estão, portanto, renascendo e não apenas nascendo.” [3]
Reconhecer que o lar é uma oficina de trabalho para todos os Espíritos reencarnados é intrínseco à proposta reencarnatória. Entretanto, aos pais cabe a tarefa de equacionar os conflitos existentes nas relações familiares, educando seus filhos de forma assertiva e amorosa, a fim de aprimorar no bem a biografia pessoal já existente. Tarefa essa viável com Jesus, transformando o lar em um poço que jorra água viva, que mata a sede do adolescente inseguro nas suas esferas reparatória e evolutiva neste orbe de provas e expiações.

Se o adolescente não reconhecer nas relações familiares um espaço possível para dividir suas angústias, suas dificuldades e suas inseguranças, muito provavelmente vai buscar outras possibilidades de se expressar, de comunicar suas dores. O suicídio é um ato impulsivo de se comunicar, por meio do corpo e no corpo, o que a palavra não foi capaz de realizar.
Referências bibliográficas:
[1] FIOCRUZ. Adolescência e suicídio: um problema de saúde pública. Rio de Janeiro, FIOCRUZ. Set/2024. Relatório Técnico. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=Adolescencia-e-suicidio-um-problema-de-saude-publica.
[2] DOS SANTOS, Tatiane Brand; DINIZ, Talita Macedo; DA SILVA, Emanuely Zelir Pereira. Fatores comuns associados ao suicídio na adolescência no contexto pós-moderno. Monumenta – Revista de Estudos Interdisciplinares. Joinville. v. 2, n. 4, jul./dez. 2021, p. 68-93. ISSN 2675-7826.
[3] MIRANDA, Hermínio. Nossos filhos são espíritos. 6. ed. Niterói: Lachâtre, 1997.
Afonso Celso Martins Pereira
Página 9