CARE 75

Tormentos voluntários

Cada ser encarnado neste Orbe se depara com inúmeros desafios, diversos em extensão e intensidade. Muitos transcendem a sua atual reencarnação, pois já fazem parte da colheita; outros se constituem resultados imediatos de escolhas que, a seu modo, são intrínsecos ao exercício do livre-arbítrio.

Nenhum Espírito reencarnado no planeta Terra passará incólume por uma jornada evolutiva sem experienciar a dor e o sofrimento, em razão de que algo nesse sentido lhe escapa à sua escolha. Entretanto, existem vicissitudes relativas aos desejos e atitudes, relacionadas ao gozo e às conquistas imediatas que seduzem aquele ser que, ainda imaturo como uma criança, se deixa levar como numa brincadeira despretensiosa.

O amigo espiritual Fénelon nos adverte através de sua comunicação, grafada em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que: “O homem, como que de intento, cria para si tormentos que está nas suas mãos evitar” [1]. Logo, somos os promotores das nossas aflições; amealhamos tormentos voluntários porque escolhemos o que é impermanente, o que nos sacia de imediato, os prazeres do mundo terreno que se traduzem em uma felicidade efêmera.

Buscar o entendimento sobre nossas escolhas equivocadas pode ser um exercício que, através da reflexão, promova a conscientização dos objetivos de uma proposta reencarnatória, que se consolida por decisões justas e diretivas na senda evolutiva.

Não obstante, podemos trazer como uma proposta reflexiva a assertiva paulina: “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança” [2].

Tornar-se homem é alcançar um amadurecimento consolidado com a responsabilidade pelas escolhas e por suas consequências. Deixar de falar, pensar e raciocinar como criança é compreender que, ao tomar conhecimento dos ensinamentos do além-túmulo e do Evangelho do Cristo, não cabe ao Espírito reencarnado a esquiva dos tormentos voluntários que estava em suas mãos evitar.

O sistema pedagógico evolutivo do Espírito Imortal contempla erros e acertos, possibilidades intrínsecas de uma origem simples e ignorante, mas que tem em germe as potencialidades necessárias à angelitude. Logo, preciso é eliminar as coisas de criança, tais como a rebeldia, o imediatismo, o gozo sem consequências, e tornar-se homem que amadurece com os erros do pretérito e que semeia a paz no coração, “única felicidade real neste mundo” [3].

Referências bibliográficas:

[1] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V – Bem-aventurados os aflitos, item 23

[2] Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, 13:11

[3] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V – Bem-aventurados os aflitos, item 23

Afonso Celso Martins Pereira

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