Resignação perante as aflições
As aflições percorrem a trajetória do Espírito reencarnado em um planeta de provas e expiações, afirmativa esta que é comprovada por todos aqueles que caminham sobre o planeta Terra.
Mediante tal realidade, Jesus Cristo, no sermão do monte, mediante a misericórdia divina, afirma: “Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados”.[1] Conhecedor da dinâmica psíquica dos Espíritos reencarnados neste Orbe, o Mestre Nazareno assevera que o consolo para os aflitos é uma certeza nos códigos divinos, pois não existe aflição ou sofrimento sem causas justas, bem como se revestem de caráter pedagógico na senda evolutiva.

Para se efetivar como um processo pedagógico e não como um processo punitivo das escolhas intempestivas, feitas pelos Espíritos reencarnados, a resignação que “é o consentimento do coração”[2], já se manifesta como o início da cura, quando se acolhe as desditas existenciais, não somente pela lógica racional das causas, mas preponderantemente pelo sentimento amoroso da pedagogia divina.
Entretanto, faz-se necessário destacar que o ato de murmurar contra as divinas diretrizes educativas compromete a colheita e faz perder o fruto: “Logo, se murmurarmos nas aflições, se não as aceitarmos com resignação e como algo que devemos ter merecido, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos, que faz perder o fruto que devíamos colher do sofrimento. É por isso que teremos de recomeçar, absolutamente como se, a um credor que nos atormente, pagássemos uma cota e tomássemos de novo por empréstimo.”[3]
A reflexão sobre o exposto acima nos oferece uma possibilidade de realizarmos uma autocrítica em relação aos nossos pensamentos, sentimentos e atitudes referentes aos nossos desafios constituídos pelas aflições que vivenciamos em nosso cotidiano.
Promover essa reflexão diariamente ou sempre que possível, como um exercício de autoconhecimento, poderá desvelar o ciclo vicioso em que nos encontramos. Muitos de nós, mesmo antes de assimilarmos o conhecimento que as aflições nos possibilitam, através da conscientização de nossas responsabilidades nas consequências aflitivas, contraímos novos débitos educacionais ao deslocarmos nossas responsabilidades a outrem, inclusive a Deus, através de nossas lamúrias.

Portanto, na economia divina, repetiremos o aprendizado até que ele seja assimilado, capacitando-nos, assim, para sairmos do casulo com liberdade consciente e alçarmos voos aos planos superiores que nos levarão à consolação prometida.
Referências bibliográficas:
[1] O Novo Testamento, Mt, 5:4, FEB, Tradução Haroldo Dias.
[2] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Cap. IX, item 8. FEB.
[3] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Cap. V, item 12. FEB.
Afonso Celso Martins Pereira
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