O ser de bem
A consciência plena de uma existência reencarnatória fundamentada nos princípios evangélicos de Jesus Cristo amplia o horizonte do ser. Entretanto, faz-se necessária a instrumentalização de condutas práticas que efetivem a tomada de consciência das ações edificadoras no bem.
O homem de bem, caracterizado no capítulo XVII – “Sede Perfeitos”, do Evangelho Segundo o Espiritismo [1], descortina as possibilidades factíveis que se constroem não de uma só vez, mas ao longo da jornada evolutiva do ser imortal.
Acreditar que, em poucos anos de vida na Terra, diante da jornada evolutiva eterna, o Espírito reencarnado se constituirá em um ser de bem em sua mais ampla definição pode trazer uma fantasia que o afaste da realidade do processo evolutivo. Essa fantasia pode levar a futuras frustrações, pois, diante dos desafios existenciais, o ser se confronta com atitudes atávicas e egóicas, que se manifestam de forma inconsciente na expressão reativa de condutas cristalizadas.
A conquista de novos valores depende da força de vontade do Espírito, potência da alma. Por isso, há diversidade no grau evolutivo em que cada ser se encontra. Assim, em uma determinada reencarnação, pode ocorrer um maior avanço evolutivo, como exemplificado ao longo da história. Todavia, o processo se constitui, em sua generalidade, passo a passo: “A cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante. Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal” [2].
Os ensinamentos de Jesus, roteiro seguro para a constituição do ser de bem, não se destinam exclusivamente ao ser humano, mas sim ao Espírito imortal, por serem condutas universais que transcendem a materialidade de uma reencarnação e se desdobram ao infinito.
Repetir condutas equivocadas diante de desafios neste planeta de provas e expiações ainda é comum para os Espíritos que aqui jornadeiam, em virtude de seu grau evolutivo. Por isso, ainda nos deparamos com as misérias e violências diversas dos atos humanos em circunstâncias globais, mas também individuais.
O desafio cotidiano é a escola que promove o avanço: etapa concluída com aproveitamento, aprendizagem consolidada e habilitação para novos desafios. Já a repetição de equívocos sinaliza a necessidade de maior burilamento e o refazer da tarefa inacabada. “Amém vos digo que de modo nenhum sairás dali até que restituas o último quadrante” [3].
Referências Bibliográficas
[1] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XVII, Item 3.
[2] O Livro dos Espíritos, questão 168.
[3] O Novo Testamento, tradução de Haroldo Dutra Dias (FEB) – Mateus 5:26.
Afonso Celso Martins Pereira
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