Reconciliação
A diversidade de opiniões e as múltiplas possibilidades de ser e estar no mundo caracterizam a singularidade de cada indivíduo, o que se manifesta de acordo com a personalidade constituída na experiência individual do ser reencarnante.
A partir de sua trajetória existencial nos círculos sociais e do sentido de mundo que o sujeito se apropria, observamos que os desencontros entre os integrantes do grupo social muitas vezes se manifestam em virtude do orgulho, da vaidade e do egoísmo. Sendo assim, o rompimento de relações, o afastamento e o ressentimento se tornam condutas comuns, ao identificarmos o outro, em sua individualidade, como adversário.
Enquanto esse afastamento e o sentimento egóico em relação ao outro perduram, nutrimos em nós desarmonia emocional, o que nos leva a disfunções psíquicas, direcionando nosso comportamento de forma equivocada no presente e criando armadilhas para o futuro, como os processos obsessivos.
Ao analisarmos a gravidade de tal situação, que é uma realidade em nossa jornada terrena, encontramos no Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo X, “Bem-aventurados os que são misericordiosos”, o ensinamento de Jesus, que nos orienta a efetivar a reconciliação com o nosso inimigo enquanto ambos se encontram encarnados.
O Mestre, conhecedor dos desdobramentos na vida futura, nos adverte que as injunções não equacionadas e apaziguadas entre os adversários, Espíritos imortais, por meio da compreensão, do entendimento e, principalmente, do perdão, desdobram-se em calamitosas relações de opressão, sofrimento e dor, independentemente da dimensão em que se encontrem.
Uma das virtudes apresentadas no capítulo em questão é a indulgência. Esta, quando praticada, favorece a reconciliação, pois não identifica no outro seus defeitos como a principal característica constitutiva de sua personalidade, mas, ao contrário, os vê como um campo de possibilidades a ser trabalhado por ambos.
Dessa forma, citamos uma orientação do Espírito José: “Sejam indulgentes, meus amigos, pois a indulgência atrai, acalma e reergue, ao passo que o rigor demasiado desanima, afasta e irrita.”¹
Que possamos ser indulgentes para com o outro devido às suas limitações, pois estas muitas vezes ressoam com as nossas, caracterizando-se, assim, como a trave em nossos olhos e o argueiro nos olhos do adversário.
¹ O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo X. Ed. Histórica, FEB, 2019, p. 149.
Afonso Celso Martins Pereira
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