A hora da morte
Onde houver vida, haverá morte. Uma metamorfose. A natureza que nossos olhos contemplam é uma sequência de mudanças em constante processo: nascer, reproduzir e morrer. O ser humano, integrante dessa natureza, submete-se ao processo natural da transformação, contínua e necessária para o progresso universal.
Segundo Léon Denis, “Para a maior parte dos homens, a morte continua a ser o grande mistério, o sombrio problema que ninguém ousa olhar de frente.” Entretanto, o processo do envelhecimento, com o passar dos dias, nos lança ao período do desenvolvimento humano que os teóricos denominam velhice. Nesta fase da jornada terrena, o corpo físico já se encontra em declínio de suas funções motoras e cognitivas, prenunciando que a finitude desse corpo está próxima e é chegado o momento inevitável de olhar de frente para esse fenômeno: a morte.
Quando deixamos para esse momento a tarefa de olhar para a morte como certeza de finitude, que na realidade é somente do corpo físico, somos surpreendidos pela incerteza do porvir, pela angústia da separação dos entes queridos, dos bens adquiridos e dos títulos que sustentamos como âncora de reconhecimento socioexistencial. Enfrentamos, nessa fase da vida, tarefa árdua e difícil, pois a consciência da aproximação da morte muitas vezes é acompanhada de insegurança e medo.
Léon Denis (1) continua: “Para nós, ela é a hora bendita em que o corpo cansado volve à grande natureza para deixar à psique, sua prisioneira, livre passagem para a Pátria eterna.” Assim, o espírita, que olha de frente para a morte, ou pelo menos deveria, entende que o fenômeno da morte é uma simples mudança de estado. A vida não encontra a finitude no túmulo; como diz o autor acima, apenas “liberta a alma prisioneira”, que ganha possibilidades diversas de continuar sua jornada em outras condições, com suas virtudes e vícios auridos, sem se afastar definitivamente de seus entes queridos, apenas em breve momento, pois, para o Espírito imortal, o tempo e o espaço se perdem na grandeza universal do amor divino.
Como bem nos ensina Joanna de Ângelis (2): “Tudo se transforma. O corpo se altera e decompõe, indo vitalizar outras expressões. Já o ser espiritual, que nele habita transitoriamente, deixa-o para assumir a sua realidade estrutural. Vive, portanto, considerando que a morte pode alcançar em qualquer momento, devendo te preparares desde já para a viagem inevitável.”
Portanto, prepara-te hoje!
[1] Denis, Léon. O problema do ser, do destino e da dor, Cap. X – A morte, p. 121.
[2] Joanna de Ângelis/Divaldo Franco. Vida Feliz, XCI.
Afonso Celso Martins Pereira
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