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Obediência e resignação

O Espírito Lázaro nos traz uma grande orientação no capítulo 9 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado “Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos”. No item 8 do referido capítulo, Lázaro vem nos esclarecer que a “obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração”. Mas como podemos compreender esta afirmativa?

Se formos recorrer, pura e simplesmente, ao significado atual destas duas virtudes, obediência e resignação, talvez tenhamos muita dificuldade na compreensão da mensagem desse Espírito, pois encontramos nos dicionários da atualidade as seguintes definições:

Obediência: Ato ou efeito de obedecer. Ceder. Cumprir. Seguir. Submeter-se à vontade de alguém. Cumprir uma ordem. Aceitar uma determinação.

Resignação: Desistir de alguma coisa, geralmente em favor de outrem. Aceitar pacientemente o que se apresenta ou acontece. Submeter-se à vontade divina.

Por essa definição, a obediência está ligada a uma atitude de submissão pura e simplesmente, sem sequer cogitar se aquilo que está sendo cedido, cumprido ou seguido seja moralmente certo ou errado. Assim, a obediência não tem as características de uma virtude, porque lhe falta o elemento da razão, da reflexão, para que esta obediência não seja cega e sim raciocinada.

Já com relação à resignação, os dicionários apresentam uma característica muito importante que é o elemento da aceitação, mas, aliado a esta aceitação, temos também o elemento da tristeza, pois, aceitar tudo aquilo que acontece ou se apresenta traz junto de si esta possibilidade de recebermos, por exemplo, uma notícia de algo que não é bom, ou até mesmo prejudicial e, ainda sim, termos que nos resignarmos frente ao acontecido. Logo, por esta definição, a resignação não poderia ser encarada como uma virtude, pois que toda virtude traz em si o componente da alegria, uma virtude jamais pode trazer o sentimento da tristeza.

Percebemos então que as definições apresentadas pelos dicionários para a obediência e a resignação não nos ajudam muito a vê-las como virtudes, justamente por lhes faltarem componentes como razão, reflexão, alegria e felicidade. Assim, sem a reflexão, o raciocínio, sem os sentimentos de alegria e felicidade, não tem como coração e mente consentirem com o que quer que seja.

No entanto, o Espírito Lázaro afirma categoricamente nesse trecho do Evangelho que a obediência e a resignação, “duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, se bem os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade”.

O que este Espírito nos diz, em realidade, é que a doutrina de Jesus nos mostra que o consentimento da razão é a razão dizendo sim. Não se obedece simplesmente porque alguém manda, obedece-se porque sabe-se que aquela ordem é verdadeira, é correta, pois passou pelo crivo reflexão e da razão. É a razão que se submete e não a vontade. A vontade apenas se apoia na razão para dizer sim à obediência.

Da mesma forma, o consentimento do coração é o coração que tem que dizer sim alegremente, assim como Maria disse, quando lhe foi revelado que seria a mãe do Senhor:

– Faça-se na serva a vontade do Senhor!

É o coração dizendo sim sem perder a alegria de viver, por sabermos que em momento algum estaremos sem o amparo divino, por sabermos que nada nos ocorre sem um fim providencial, por termos a certeza inabalável de que nosso destino é a perfeição relativa.

Assim, com essa visão trazida pelo Espírito Lázaro, a obediência e a resignação passam a luarizar ainda mais nossa existência nos tornando capazes de encarar as vicissitudes da vida de maneira mais objetiva, com mais coragem e fé no futuro.

Robson Bonjour

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