CARE 76

Meu filho aventureiro

“José é um menino levado demais! Atravessa a rua correndo, sem olhar para os lados! Já tive que tirá-lo da piscina, porque pulou nela sem saber nadar! Escala os móveis da casa o tempo todo! Aproxima-se de cão bravo com naturalidade… Parece que ele não tem noção do perigo!”

O desabafo da mãe de José é muito comum entre mães de filhos pequenos. E ela tem razão: ele não tem ainda noção do perigo, porque crianças em geral não possuem essa noção até aproximadamente os seis anos de idade.

A falta de percepção de perigo em crianças pequenas não é um capricho, mas sim uma etapa natural do desenvolvimento neurológico e cognitivo. O córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento, discernimento e avaliação de riscos, ainda está em pleno amadurecimento. Isso significa que a criança age pelo impulso do momento, sem conseguir antecipar as consequências de suas ações. Ela não associa o fogão quente à queimadura, a tomada elétrica ao choque ou a rua movimentada ao atropelamento. Seu universo é de exploração sem o devido entendimento entre o seguro e o ameaçador.

A Doutrina Espírita ensina-nos que a infância é um período de grande plasticidade, onde o Espírito recém-encarnado se encontra em um estado de relativa pureza e maleabilidade. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos [1], esclarece que a infância é um período em que as imperfeições de existências passadas podem ser atenuadas e novas virtudes adquiridas, reforçando o uso de ferramentas por pais e educadores que visem à condução desse processo de aprendizado e amadurecimento, tais como:

  • Paciência: Reconhecer que a falta de percepção de perigo é uma fase natural do desenvolvimento espiritual e material da criança, promovendo uma atitude de maior paciência por parte dos adultos.
  • Exemplo: Pais que demonstram prudência, responsabilidade e cuidado em suas próprias ações estão ensinando seus filhos a desenvolverem essas mesmas qualidades.
  • Diálogo: À medida que a criança cresce, é fundamental conversar sobre os perigos de forma adequada à sua idade. Explicar as consequências de certas ações, sem aterrorizar, mas com firmeza e seriedade. Por exemplo: “Se você tocar no fogão quente, vai machucar sua mão e doer muito.”
  • Disciplina amorosa: A disciplina é essencial, mas deve ser exercida com amor e bom senso. Estabelecer limites ajuda a criança a entender o que é permitido e o que não é, contribuindo para a compreensão das regras de convivência.
  • Família: A família é a base para o desenvolvimento do Espírito. É no lar que a criança tem as primeiras experiências de amor, respeito, solidariedade e responsabilidade. O ambiente familiar seguro e afetuoso é propício para que ela desenvolva a confiança em si mesma e no mundo, essencial para que possa discernir o perigo e agir com prudência.

A vigilância amorosa dos pais deve ser o escudo que protege a inocência de seus filhos, permitindo que a pureza da infância floresça em segurança, valorizando a simplicidade das crianças, como Jesus nos ensinou!

Referências bibliográficas:

[1] O Livro dos Espíritos, questão 385.

Verônica Azevedo

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