Pais que projetam seus sonhos nos filhos

De repente o filho cresceu… e os pais veem ali a oportunidade de realizar seus sonhos que ficaram esquecidos lá trás… Esse pensamento muito provavelmente é inconsciente, mas o desejo é tão forte, que os pais não reconhecem nos filhos, indivíduos com seus próprios desejos.

E qual é a missão dos pais? Orientá-los para que atinjam a sua realização pessoal e profissional e sejam felizes com as suas escolhas, conforme esclarecem os Espíritos Amigos na questão 208 de O Livro dos Espíritos: “…os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação.”

Os pais têm um peso muito grande na construção da personalidade dos filhos, podendo direcioná-la para o caminho do bem ou não, podendo fortalecê-la ou enfraquecê-la, podendo valorizar suas atitudes ou depreciá-las.

Faz parte do processo educativo a conduta dos pais na orientação dos filhos. O perigo, no entanto, é desejar se autorrealizar nos filhos e projetar neles sonhos que não são deles.

Será que estou agindo assim? Como detectar esse comportamento? Buscando identificar se existe essa projeção ou não. E caso ela exista, é necessário o reconhecimento para gerar uma mudança.

Mas por que mudar? Por que não posso desejar que meu filho siga os meus passos? Será que é realmente necessário dizer o quanto a frustração pode interferir na vida de uma pessoa? Será que a realização dele consiste em seguir os passos dos pais?

Na carta de Paulo aos Efésios, o grande apóstolo dos gentios diz: “Pais, não deem aos filhos motivo de revolta contra vocês; criem os filhos, educando-os e corrigindo-os como quer o Senhor.” (6:4). Assim sendo, não é producente castrá-los em suas aptidões e talentos naturais, impedindo projetos e sonhos lícitos, pois se assim o fizer, no futuro a revolta poderá se instalar no coração deles.

É fundamental respeitar a individualidade do filho, se interessar pelos gostos dele, conhecê-lo profundamente e admirá-lo como ele é, auxiliando-o para que se torne a cada dia um ser melhor, virtuoso, uma pessoa de bem. Paralelamente, os pais devem se empenhar na busca do seu próprio autoconhecimento para encontrarem o seu caminho e a sua felicidade.

O escritor Khalil Gibran, no seu livro O Profeta nos alerta: “Vossos filhos não são vossos filhos: são filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós, e embora vivam convosco, não vos pertencem. Podeis doar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos; porque eles têm seus próprios pensamentos. Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas; pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho. Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós, porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados. Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas. O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força, para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.  Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria: pois assim como ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estático.”

Verônica Azevedo

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