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Livre-arbítrio na visão espírita

Segundo o dicionário, livre-arbítrio significa: parecer, juízo, opinião, vontade, determinação que não dependem de regra, praxe ou lei, mas da prudência ou retidão.

Rodolfo Calligaris, no livro “As Leis Morais” ensina que livre-arbítrio é a faculdade que tem o indivíduo de determinar a sua própria conduta, ou, em outras palavras, a possibilidade que ele tem de, entre duas ou mais razões suficientes de querer ou de agir, escolher uma delas e fazer que prevaleça sobre as outras. Na questão 843 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta aos imortais:

Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos? “Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina.”

Sem o livre-arbítrio, seríamos apenas máquinas irresponsáveis, sem responsabilidade pelos erros cometidos ou méritos pelas conquistas realizadas. Pelo livre-arbítrio, o homem, mesmo que coibido fisicamente, será sempre senhor dos seus pensamentos e de suas aspirações.

Dentre os conceitos fundamentais que compõem o núcleo do Espiritismo, o livre-arbítrio é o aspecto da lei maior que sustenta a evolução do ser inteligente. O livre-arbítrio é a ação do espírito no limite de seu conhecimento sendo que a responsabilidade é na medida de seu entendimento.

Na questão 122, vemos: “Como podem os Espíritos, em sua origem, quando não tem a consciência de si mesmos, desfrutar da liberdade de escolha entre o bem e o mal? Existe neles um princípio, uma tendência qualquer que os incline mais para um caminho que para outro?”

Eis a resposta: “O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Ele não teria mais liberdade se a escolha fosse determinada por uma causa independente da sua vontade. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude de sua vontade livre. É a grande figura da queda do homem e do pecado original; alguns cederam à tentação, outros a resistiram.”

Na questão 845: “Não constituem obstáculos ao exercício do livre-arbítrio as predisposições instintivas que o homem já traz consigo ao nascer?” Ao que respondem os imortais: “As predisposições instintivas são as do Espírito antes de encarnar. Conforme seja este mais ou menos adiantado, elas podem arrastá-lo à prática de atos repreensíveis, no que será secundado pelos Espíritos que simpatizam com essas disposições. Não há, porém, arrastamento irresistível, uma vez que se tenha a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder.”

O apóstolo Paulo, consciente de que o uso da “faculdade de o homem determinar-se a si mesmo” deve, principalmente, trazer dignidade e paz de espírito, chegou a alertar (1Co 10:23): “Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam”. Portanto, o livre-arbítrio não significa onipotência ou poder soberano. É uma possibilidade de decidir, uma força em nossa vida, não há dúvida, mas não a única que dirige a existência humana.

Somos, em síntese, a causa e o efeito de nossos atos e atitudes. A responsabilidade pessoal e o livre-arbítrio implicam a obrigatoriedade de respondermos por nossas decisões e comportamentos adotados (Hammed – espírito, na obra Um modo de entender: uma nova forma de viver, psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto).

Luiz Eduardo Prado de Oliveira

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