Bem-aventurados os misericordiosos
Segundo o dicionário, misericórdia significa compaixão suscitada pela miséria alheia. Indulgência, graça, perdão.
Segundo o Espiritismo, consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam alma sem elevação, nem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir. Perdão é uma concessão indefinida de oportunidades para que o ofensor se arrependa, o pecador se recomponha, o criminoso se libere do mal e se erga, redimido, para a ascensão luminosa.
No sermão do monte, quando o Divino Mestre nos fala sobre As Bem-aventuranças da Misericórdia, mostra a importância da aplicação da lei de causa e efeito nos nossos atos diários: tudo o que fizermos, voltará para nós mesmos.
Ensina que temos que compreender o nosso companheiro mais problemático, causador de contrariedades, pois também nós, muitas vezes, necessitamos de compreensão. Esse é o sentido do perdão: perdoar porque todos também precisaremos ser perdoados. Então, se formos misericordiosos, obteremos misericórdia.
“Se somos livres na semeadura, somos escravos na colheita” (Gálatas 6:7). Essa citação é uma alusão à lei de causa e efeito, que rege a nossa vida e nos lembra que toda ação gera uma reação característica, que virá, mais tarde, sob a forma de colheita. Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, na questão 661, pergunta – Poderemos utilmente pedir a Deus que perdoe as nossas faltas? Eis a resposta: “Deus sabe discernir o bem do mal; a prece não esconde as nossas faltas. Aquele que a Deus pede perdão de suas faltas só o obtém mudando de proceder”.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 10, item 4, há a seguinte dissertação: “Existem duas formas de perdoar: a primeira, nobre, porque perdoa verdadeiramente sem que para isso o ofensor tenha de se humilhar, é perdoar sem interesse e sem segunda intenção. Enquanto a outra forma é mentirosa, pois subjuga o adversário, obrigando-o a se humilhar, mediante as condições impostas para o perdão. Isto não é perdão, é mentira, é capricho.”
As pessoas dizem perdoar, mas sua postura revela formas variadas de revide:
- Condenação | Perdoo, mas não quero vê-lo nunca mais.
- Pretensão | Perdoo, mas vou dizer-lhe umas verdades.
- Menosprezo | Perdoo, porque ele é um pobre coitado, um infeliz, sem eira nem beira.
- Rancor | Perdoo, mas não esqueço.
- Maldição | Perdoo, porque Deus há de castigá-lo.
A doutrina espírita nos lembra que:
- não há perdão total sem compreensão;
- compreensão das necessidades e limitações do próximo;
- fazer com o próximo o que gostaríamos que fizesse conosco.
Emmanuel, no livro O Consolador, questão 338, explica porque Jesus aconselhou perdoarmos “setenta vezes sete”, quando nos fala que: “A terra é um plano de experiências e resgates por vezes bastante penosos, e aquele que se sinta ofendido por alguém, não deve esquecer que ele próprio pode também errar setenta vezes sete”.
– Por que perdoar é tão difícil?
- somos imperfeitos (orgulho e egoísmo);
- dificuldade de comunicação;
- dificuldade em nos colocarmos no lugar do outro;
- o mal hábito de julgar;
- associar o perdão à fraqueza;
- fáceis melindres.
“O perdão significa renunciar à vingança, sem que o ofendido precise esquecer plenamente a falta do seu irmão; entretanto, para o Espírito Evangelizado, perdão e esquecimento devem caminhar juntos, embora prevaleça para todos os instantes da existência a necessidade de vigilância e oração.” (Emmanuel – O Consolador – questão 340).
– Perdoar é uma necessidade?
Sim, por diversos motivos, e entre eles citamos:
- ainda somos imperfeitos (cultivar a compreensão);
- facilitar a convivência: o relacionamento entre nós e os outros.
- melhorar o ambiente vibratório em que vivemos;
- para o nosso próprio bem.
– Quem precisa de perdão?
Todos nós, espíritos imortais, imperfeitos ainda como demonstram a complexidade de sentimentos e emoções contraditórios que se agitam dentro de nós, levando-nos a erros e enganos.
– Perdão é um exercício de aprendizado constante:
- perdoar é desculpar, não valorizando a ofensa, minimizando-a;
- não sentir no ofensor um inimigo, mas uma pessoa com dificuldades pessoais.
- devemos aceitar as pessoas como elas são: cheias de virtudes ou defeitos.
- sejamos menos exigentes;
- perdoar é não se sentir ofendido com o outro;
Existe um tipo de perdão, muito importante, que muitas vezes esquecemos de exercitar em nossas vidas, o auto perdão:
- a autopunição fragiliza o espírito;
- Deus nos perdoa sempre! nós é que ainda não aprendemos a nos perdoar;
- perdoar-nos resulta no amor a nós mesmos;
- perdoar-nos é não nos importarmos com o que fomos;
- perdoar-nos é conviver com a mais nítida realidade;
- perdoar-nos é compreender que os que nos cercam são reflexos de nós mesmos.
“Você quer ser feliz por um instante? VINGUE-SE. Você quer ser feliz para sempre? PERDOE”. (TERTULIANO)
Luiz Eduardo Prado de Oliveira
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