CARE 78

Comentando Kardec

O Livro dos Espíritos — parte 2

Capítulo 4: da pluralidade das existências

Justiça da reencarnação

LE. 171. Sobre o que se funda o dogma da reencarnação?

— Sobre a justiça de Deus e a revelação, pois não nos cansamos de repetir: um bom pai deixa sempre aos filhos uma porta aberta ao arrependimento. A razão nos diz que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna aqueles cujo melhoramento não dependeu deles mesmos? Todos os homens não são filhos de Deus? Somente entre os homens egoístas é que se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem perdão.

Kardec: Todos os espíritos tendem à perfeição, e Deus lhes proporciona os meios de consegui-la com as provas da vida corpórea. Mas, na sua justiça, permite-lhe realizar, em novas existências, aquilo que não puderam fazer ou acabar numa primeira prova…

A doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia da justiça de Deus com respeito aos homens de condição moral inferior; a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois oferece-nos o meio de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A razão assim nos diz, e é o que os espíritos nos ensinam…

Jesus nos disse [1]: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.”

“Escolher a porta estreita é viver a vida como caminho do amor, vencermos a nós mesmos pela dor. Vencer os equívocos de ontem. Mantermos os olhos de ver, vigiando, arando dentro de nós, viver o Evangelho e optarmos pelo amor. Estamos na dor colhendo hoje o que plantamos ontem. Perseveremos no caminho da mudança para melhor. Só cai no abismo quem chega perto do abismo.” [2]

A porta larga é o caminho espaçoso que conduz à perdição, simbolizando a busca das ilusões de uma vida centrada na inversão de valores do materialismo, com o objetivo de se adquirir a felicidade em fazer e ter coisas, em parecer o que não se é, enfim, em valores falseados que conduzem a um vazio existencial e às doenças de falta de sentido da vida. Todas estão buscando a felicidade, mas a colocam fora de si mesmas: em corpos perfeitos, em aproveitar a vida e gozar tudo aquilo que lhes proporciona prazeres fugidios.

Vivemos num mundo materialista que nos convida a experimentar os prazeres os mais diversos. Porém, necessitamos valorizar o que é mais importante para nós, que é a capacidade de sentir e amar. A família é nosso maior patrimônio e fonte de prazer real.

Se queremos entrar pela porta estreita, devemos, de forma contínua e perseverante, estudar e trabalhar para enriquecermo-nos interiormente, mudando para melhor os conteúdos mentais, alijando pouco a pouco as sujidades acumuladas em séculos de sombras.

A reencarnação nos permite novas oportunidades para nos melhorarmos; essa é a benção que a doutrina espírita nos ensina. Podemos aproveitar hoje, aqui e agora, e fazermos esforços para passarmos pela porta estreita ou seguir nossos instintos e deixarmos para bem depois a nossa transformação moral. A escolha é sempre nossa.

Referências bibliográficas:

[1] O Novo Testamento, Mateus 7:13-14.

[2] Mateus Fraga.

Ângela M. Camargo

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