CARE 73

Comentando Kardec

O Livro dos Espíritos

Terceira parte – capítulo II

663. As preces que fazemos por nós mesmos podem modificar a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso?

“– Vossas provas estão nas mãos de Deus e há as que devem ser suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação. A prece atrai a vós os bons Espíritos, que vos dão as forças de as suportar com coragem, e elas vos parecem menos duras. Já o dissemos: a prece nunca é inútil, quando é bem-feita, porque dá força, o que já é um grande resultado. Ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará, tu sabes disso. Aliás, Deus não pode mudar a ordem da Natureza ao sabor de cada um, porque aquilo que é um grande mal, do vosso ponto de vista mesquinho, para a vossa vida efêmera, muitas vezes é um grande bem na ordem geral do Universo. Além disso, de quantos males o homem é o próprio autor, por sua imprevidência ou por suas faltas! Ele é punido pelo que pecou. Não obstante, os pedidos justos são em geral mais atendidos do que julgais. Pensais que Deus não vos ouviu, porque não fez um milagre em vosso favor, quando, enquanto ele vos assiste por meios tão naturais que vos parecem o efeito do acaso ou da força das coisas. Frequentemente, ou o mais frequentemente, ele vos suscita o pensamento necessário para sairdes por vós mesmos do embaraço.”

Mais uma vez os amigos espirituais nos falam dos benefícios da oração. Como é bom ter a certeza de que não estamos sozinhos, que mentores e entes amados velam por nós e nos ajudam nos momentos difíceis e de provações.

Podemos passar pela dor para nos reajustarmos com as leis divinas, porém estamos sempre sob o amparo do Pai que não nos dá uma prova maior do que as nossas forças. Quando passamos pelo desafio sem murmurar, temos mais méritos para termos nossas preces ouvidas e nosso desejo atendido.

No livro “Luz Acima” [1], há o conto da Sra. Malvina e do seu filho Idelfonso. A mãe era trabalhadora espírita sempre pronta para ajudar a todos que necessitavam. Seu filho paralítico a acompanhava nas orações, nos estudos da doutrina. A maior dor da mãe era ver seu filho sem poder se locomover, dependendo dela para tudo. E como ela era muito caridosa, vários pedidos subiam aos Céus pela cura do jovem filho. Foram tantas as rogativas que a espiritualidade maior acabou por conceder a melhora do jovem. Um médium de cura passou pela cidade onde eles moravam e Idelfonso voltou a caminhar. Foi uma alegria para todos, mas o jovem, ao se ver curado, quis aproveitar o tempo perdido e saía todas as noites para beber e buscar companheiros sem juízo. A mãe viu que o filho estava transformado e não havia dinheiro que bastasse para satisfazer aos gozos do rapaz.

Foi então que D. Malvina fez uma rogativa com muita unção ao Pai, para que fosse feita a vontade d’Ele, e dias depois o jovem Idelfonso voltou a enfermar e a precisar da cadeira de rodas outra vez.

Nem sempre o que pedimos em oração é o melhor para nós. Às vezes ainda não estamos prontos para a cura. Precisamos dos limites, das dores que nos mantêm no caminho da reconciliação conosco mesmo.

Ajuda-te que o céu te ajudará! Façamos a nossa parte da melhor forma possível, para termos créditos e merecimentos para sermos ajudados.

Referências bibliográficas:

[1] “Luz Acima”, Capítulo “Rogativa Reajustada”, do Irmão X. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Ângela M. Camargo

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