CARE 73

Passeio socrático

Meu filho Estêvão era bem pequeno. Caminhávamos pelo shopping, quando me dei conta de que ele estava muito triste, com os olhinhos cheios de lágrimas. Perguntei, surpreso:

– Filho, o que houve?

E ele, lamurioso:

– O meu problema, pai, é que tudo que eu vejo eu quero!

O fato me remeteu a Gandhi. Percorria o aeroporto de Londres, aguardando o voo que o levaria de volta à Índia, quando, diante de uma loja de artigos finos, começou a rir de forma surpreendente. O representante do governo inglês, que o acompanhava, indagou, de forma generosa:

– O senhor está admirando nossos produtos. Peça qualquer coisa e eu terei o maior prazer em presenteá-lo.

O ilustre missionário indiano voltou-se e disse:

– Caro amigo, estou rindo das tantas coisas que vocês possuem, e das quais eu não preciso.

Passam-se os anos e os tormentos e ansiedades se renovam: gastar, comprar, trocar, consumir cada vez mais e produtos mais caros ou de marca. Os economistas denominam esse processo de “esteira hedonista”, e as consequências disso para a saúde emocional (sem nos referirmos aos problemas econômicos) são evidentes: insatisfação, despeito, brigas, depressão.

Só existe um caminho: a busca de uma vida interior mais rica; o entendimento de que a essência do bem-estar íntimo não está em possuir cada vez mais e sim em enriquecer de significado as coisas que possuímos.

A miragem de todo homem que busca o sucesso é uma vida luxuosa. Mas o que é o luxo? O luxo é a posse e a ostentação de coisas raras. E o que é raro em nossos dias? Conta bancária gorda, automóveis importados, mansões e viagens para o exterior não são mais coisas raras. Raros, em nossos dias, são o silêncio, o tempo, a saúde, a segurança, a amizade sincera, o afeto de pessoas que nos querem bem, a serenidade interior. E isso não se adquire com mercadoria de troca.

Por tudo isso, Jesus proclamou: Busquem primeiro o reino de Deus e tudo o mais lhes será acrescentado.

Ricardo Baesso de Oliveira

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