Passeio socrático
Meu filho Estêvão era bem pequeno. Caminhávamos pelo shopping, quando me dei conta de que ele estava muito triste, com os olhinhos cheios de lágrimas. Perguntei, surpreso:

– Filho, o que houve?
E ele, lamurioso:
– O meu problema, pai, é que tudo que eu vejo eu quero!
O fato me remeteu a Gandhi. Percorria o aeroporto de Londres, aguardando o voo que o levaria de volta à Índia, quando, diante de uma loja de artigos finos, começou a rir de forma surpreendente. O representante do governo inglês, que o acompanhava, indagou, de forma generosa:
– O senhor está admirando nossos produtos. Peça qualquer coisa e eu terei o maior prazer em presenteá-lo.
O ilustre missionário indiano voltou-se e disse:
– Caro amigo, estou rindo das tantas coisas que vocês possuem, e das quais eu não preciso.
Passam-se os anos e os tormentos e ansiedades se renovam: gastar, comprar, trocar, consumir cada vez mais e produtos mais caros ou de marca. Os economistas denominam esse processo de “esteira hedonista”, e as consequências disso para a saúde emocional (sem nos referirmos aos problemas econômicos) são evidentes: insatisfação, despeito, brigas, depressão.
Só existe um caminho: a busca de uma vida interior mais rica; o entendimento de que a essência do bem-estar íntimo não está em possuir cada vez mais e sim em enriquecer de significado as coisas que possuímos.

A miragem de todo homem que busca o sucesso é uma vida luxuosa. Mas o que é o luxo? O luxo é a posse e a ostentação de coisas raras. E o que é raro em nossos dias? Conta bancária gorda, automóveis importados, mansões e viagens para o exterior não são mais coisas raras. Raros, em nossos dias, são o silêncio, o tempo, a saúde, a segurança, a amizade sincera, o afeto de pessoas que nos querem bem, a serenidade interior. E isso não se adquire com mercadoria de troca.
Por tudo isso, Jesus proclamou: Busquem primeiro o reino de Deus e tudo o mais lhes será acrescentado.
Ricardo Baesso de Oliveira
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