O que é a moral?
Tratava-se do Curso de Orientação e Educação Mediúnica (COEM), oferecido pela Casa Espírita, tradicional centro de Juiz de Fora. Eu ministrava minha primeira aula no curso, recém-chegado do Rio de Janeiro, onde fizera a residência médica. O tema versava sobre a influência moral do médium na comunicação com os Espíritos, e eu trabalhei o tema segundo o que ensina O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.
No final, no instante das perguntas, uma moça me indagou:
— Mas o que é a moral?
Confesso que fiquei desconcertado com a pergunta e um pouco decepcionado comigo mesmo, pois eu falara por quase uma hora sobre o tema sem definir antes o que é a moral. Tive muita dificuldade em dar-lhe a resposta. Não estava preparado para tal. Mesmo porque não é uma resposta simples, e encontramos definições diferentes dependendo da tradição religiosa, ou mesmo se a resposta vier de um ateu ou de um filósofo.
Hoje, trinta e cinco anos depois, penso que a moral se resume em duas coisas:
- Não prejudicar ninguém.
- Ser útil sempre que possível.
Nem sempre consigo aplicar esses dois princípios em minha vida, mas entendo que devem ser nosso ideal ético de conduta.
Estaremos, então, praticando a moral:
Quando pensamos o mínimo possível em nós mesmos, para pensarmos nos outros, falando menos a nosso respeito, de nossos feitos, dos feitos de nossos filhos e de nossos problemas.
Quando calamos diante de uma provocação, aprendendo a desculpar e examinando serenamente as críticas que nos são feitas, acolhendo aquelas que têm fundamento e ignorando, sem mágoa, as que não se justificam.
Quando prestamos a máxima atenção às pessoas que se comunicam conosco, falando sem ofender e ouvindo sem nos sentirmos ofendidos. Quando deixamos de dar a última palavra.
Quando tratamos como igual aquele que a proporção de forças que prevalece na Terra colocou, momentaneamente, em condição inferior a nós, tornando-nos menos rigorosos com nossos subordinados e mais compreensivos com as falhas alheias.
Quando entendemos que pedir ajuda não é admissão de incompetência e que somos muito mais do que nossos erros.
Quando assumimos compromisso diário com o exercício da humildade, apagando-nos para que se eleve o brilho dos outros e não humilhando os que sofrem com a exibição de nossos bens.
Quando adquirimos o hábito de considerar as necessidades alheias, trocando “o meu programa” por “nossos programas”.
Quando admitimos que ninguém é obrigado a continuar ao nosso lado se já não deseja mais, e se nosso parceiro anseia por identificar-se com uma vida nova, não devemos nos comportar como algema ou prisão.
Quando nos contentamos com o necessário, não contribuindo com a onda extravagante de consumo e não criando necessidades falsas, que acabam tornando mais sofridas as diferenças sociais.
Quando compreendemos que aqueles que estão em situação de carência de recursos não são os únicos responsáveis por isso e deixamos de acreditar que tudo o que conseguimos se deve apenas ao nosso esforço, desconhecendo a contribuição das múltiplas forças que atuam sobre nós.
Quando não nos espelhamos nas pessoas ditas famosas que exibem, sem vergonha, as suas chagas morais.
Quando nos envolvemos, gratuitamente, em tarefas voltadas ao bem comum, esquecendo o entretenimento e buscando o serviço útil sempre que possível.
Quando reconhecemos que, embora a força, às vezes, seja necessária, só há grandeza na doçura, na mansidão e na bondade.
Quando cuidamos de agradar os outros, não por bajulação, mas pelo desejo sincero de levar-lhes alegria, paz e conforto espiritual.
Ricardo Baesso de Oliveira
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