O dia que nunca chega

Nestes tantos anos de movimento espírita, já perdi a conta

do número de pessoas que me procuraram dizendo que se tornariam voluntários em tarefas no bem, mas nunca assumiram coisa algumas. As justificativas:

– Quando meus filhos crescerem…

– Quando terminar a faculdade…

– Quando me aposentar…

Os filhos cresceram, terminaram a faculdade, aposentaram-se e… nada!

O filósofo Aristóteles dizia que o começo é mais da metade do todo. E sair da inércia, para assumir uma tarefa altruísta, exige certa força de vontade, que muitos não estão dispostos a ter. É como o arrancar de um automóvel: exige a marcha mais forte, que é a primeira.

Minha mãe comentava que, quando precisava de alguém para colaborar em uma atividade nova no centro espírita, ela procurava os mais ocupados. Eles sempre davam um jeito de ajudar. Os desocupados nunca podiam, porque nunca tinham tempo.

Sobre isso, Chico Xavier contava um caso engraçado.

Havia, em Pedro Leopoldo, um fazendeiro muito rico e que gostava muito do Chico. Sempre que o via, no mercado, na farmácia ou na padaria, dizia:

– Olha, Chico, eu vou fazer uma doação muito generosa para suas obras sociais. Qualquer dia eu procuro você no centro.

Um detalhe: embora a promessa se repetisse sempre que se encontravam, ele nunca cumpria.

Um dia, o cidadão teve um infarto fulminante e morreu.

Meses depois, Chico Xavier chegou ao centro para uma determinada reunião, quando o vê, sentadinho na última fila, com um talão de cheques e uma caneta em uma das mãos.

Surge, então, pela visão mediúnica de Chico, seu guia Emmanuel.

Voltando-se para o médium, o benfeitor disse:

– Olhe, Chico, tenho duas notícias para lhe dar, uma boa e outra ruim.

O Chico:

– Dê primeiro a boa, meu irmão.

E Emmanuel:

– A boa notícia é que nosso irmão finalmente veio. Ele não dizia isso? Pois então, veio.

Chico retrucou:

– É verdade, é uma boa notícia. E a ruim? Diga logo!

E o benfeitor, concluindo:

– A ruim é que ele não sabe que morreu e é você que vai ter que lhe dizer.

Ricardo Baesso de Oliveira

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