CARE 60

É indispensável criar esperanças novas

Conversando com um padre que conheci quando trabalhei como médico generalista, na Clínica de psiquiatria São Domingos, ele me disse algo que, de certo modo, vai de encontro à teologia católica:

– A Igreja dá muito valor a fé, mas existe uma virtude maior do que a fé: a esperança.

E se justificou:

– Muitas vezes me deparei com suicidas que, escrevendo aos pais, disseram: “que Deus me perdoe”, ou “que Deus os abençoe”. Ora, fé eles possuem; o que lhes falta é a esperança.

Concordo com ele. O apóstolo Paulo apresentou a esperança como uma das grandes virtudes, ao lado da fé e da caridade. Paulo considerava a caridade como a mais importante. Isso é correto, se considerarmos o progresso moral. Mas, do ponto de vista da sobrevivência e da superação, a esperança é a maior. Quantas pessoas existem por aí sem fé e profundamente egoístas, e vivendo relativamente bem! Mas, sem esperança, poucas pessoas conseguem sobreviver. Os deprimidos graves que se matam o fazem pela desesperança: estão muito mal e acreditam que vão ficar assim para sempre.

Quando Allan Kardec perguntou aos benfeitores espirituais o que mais faz sofrer os Espíritos maus em expiação no além, eles responderam: o fato de acreditarem que sofrerão para sempre.

E quando Kardec estabelece as bases para a felicidade possível na Terra, ele coloca três condições: a satisfação das necessidades materiais, a consciência tranquila e a fé no futuro, ou seja, a esperança.

Para sobreviver, precisamos estar sempre esperando por alguma coisa: o domingo, um feriado, as férias, um aniversário, a aposentadoria. Necessitamos sempre renovar as expectativas, criar coisas novas, redescobrir objetivos para a nossa vida, para sobrevivermos com um mínimo de bem-estar interior.

Ricardo Baesso de Oliveira

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