Vontade segundo Allan Kardec
Allan Kardec se vale do vocábulo vontade cento e quinze vezes em O Evangelho segundo o Espiritismo e cento e trinta e seis vezes em O Livro dos Espíritos, e admite ser a vontade o mais eficaz instrumento no combate às más inclinações [i]. Coloca, também, que devemos resistir com toda a nossa energia aos arrastamentos que podem enfraquecer a vontade[ii].
Mas, para Kardec, o que significa vontade? Nosso codificador vai defini-la em um discurso pronunciado na Sociedade Espírita de Paris e reproduzido na Revista espírita, de dezembro de 1864:
O pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o espírito da matéria; sem o pensamento, o espírito não seria espírito. A vontade não é um atributo especial do espírito; é o pensamento chegado a certo grau de energia; é o pensamento transformado em força motriz. É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido. Mas, se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve ser essa força sobre os elementos fluídicos que nos rodeiam!
Da conceituação de Kardec extraímos algumas lições:
1- Não se deve considerar a vontade como um atributo do Espírito, diferenciando-a da inteligência, das propensões artísticas, da religiosidade etc.
2- Deve ser considerada como o resultado de um pensamento que se move no sentido da uma realização, da concretização de algo, que existiu inicialmente apenas no campo mental.
3- A vontade se expressa quando faz acontecer: força motriz, ou seja, uma energia que move, que age, que gera alguma coisa, que tem consequências.
4- Devemos diferenciá-la do desejo, porque o desejo é um querer adiado, postergado, que ainda não se deu; enquanto a vontade é um querer materializado, acontecido, finalizado.
Exemplificando com dois exemplos: O fumante que deseja parar de fumar, mas ainda não o fez. Está na dimensão do desejo, programado apenas, mas não concretizado. O gordinho, que fazendo uso da vontade, perdeu dez quilos. Trata-se de vontade, porque fez acontecer.
Um grande desafio para todos nós espíritas: deixarmos
a dimensão do desejo (querer adiado) e mergulharmos na dimensão da vontade
(querer concretizado). Agindo assim, estaremos dando passos seguros rumo ao
real desenvolvimento espiritual.
[i] LE, item 909.
[ii] ESE, cap. 5, item 25.
Ricardo Baesso de Oliveira
Página 5