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Autoridade

“Pois ele ensinara como tendo autoridade – e não como os escribas deles.” (Mateus 7:29)

A conclusão do Sermão do Monte, no evangelho de Mateus, fala do espanto e da admiração das pessoas que haviam ouvido Jesus. A surpresa era grande, pois não só os ensinamentos traziam grandes novidades, como também Jesus não possuía a necessária “formação religiosa” para ensinar – ou seja, não era um escriba.

O termo “escriba”, no contexto dos evangelhos, se refere ao chamados mestres ou doutores, homens que haviam se especializado no estudo da Lei ou Torá. De forma geral, eram os encarregados de ensinar ou explicar a Lei para o povo. Tinham grande influência e podiam ser partidários de diferentes correntes do judaísmo. Segundo Allan Kardec, possuíam também alguma antipatia pelos inovadores[i].

Porém, se a autoridade dos escribas vinha de sua formação e de seu conhecimento, de onde vinha a autoridade de Jesus, para falar das questões espirituais? Para muitos cristãos, a autoridade de Jesus vinha de Deus. Mas, por que Deus daria autoridade a uns e não a outros? Este tipo de escolha não se encaixa com a ideia de um Deus justo.

Para o Espiritismo, a autoridade de Jesus foi conquistada por ele mesmo, através de um longo processo de evolução intelecto-moral. Ele atravessou, há um tempo inconcebível para nós, as experiências pelas quais nós hoje atravessamos. Jesus deve a si mesmo a posição espiritual que alcançou e que lhe permite o título de Mestre.

Diferente dos escribas, que em sua maioria falavam apenas do que tinham lido e aprendido, Jesus falava do que tinha vivenciado. Enquanto os escribas discutiam a respeito dos caminhos, nos mapas da vida futura, Jesus já havia trilhado estes mesmos caminhos.

De certa forma todos nós que estudamos e falamos sobre o Espiritismo, estamos em posição semelhante à dos escribas. No entanto, isso não deve servir de empecilho, mas de estímulo. Como Espíritos em jornada, todos nós já adquirimos alguma autoridade também, ainda que dentro de nossas limitações.

Essa autoridade, porém, deve estar baseada não no que entra em nossa mente na forma de conhecimento, mas no que já conseguimos expressar em termos morais. Se é importante entender a autoridade de Jesus, é importante também entender a nossa, pois ela representa nossos valores, nossas conquistas, nossos esforços.

Mas estejamos atentos. A autoridade moral é coisa curiosa: quanto menos a exercemos, mais ela cresce; quanto mais despreocupado em conquistá-la, mais a adquirimos. Valorizada pelas outras pessoas em nós, ela pode até ser verdadeira; mas se valorizada por nós mesmos, é pura expressão de orgulho.


[i] O Evangelho segundo o Espiritismo. Allan Kardec. Introdução. Item III.

Ely Edison Matos

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