CARE 50

Investimentos

“(…) ajuntai tesouros no céu (…)” Jesus (Mateus 6:20)

Uma das advertências mais conhecidas, feita por Jesus no Sermão do Monte, continua sendo interpretada materialmente por muitos estudantes espíritas. Depois de André Luiz mostrar que a vida no plano espiritual próximo à crosta terrena guarda muitas semelhanças com o plano físico[i], possuindo inclusive um sistema compensatório baseado em “bônus-hora”, a crença em “tesouros celestes” ficou ainda mais forte para alguns.

Distraídos, esquecemos que para o Espiritismo o “céu” – tanto no sentido físico quanto no figurado – está em toda parte. Lembra Kardec: “Das qualidades do indivíduo depende-lhe a felicidade, e não do estado material do meio em que se encontra, podendo a felicidade, portanto, existir em qualquer parte onde haja Espíritos capazes de a gozar.”[ii]. Não é o meio que estabelece a condição do Espírito: é a reunião de Espíritos que estabelece a condição do meio.

Neste sentido, “céu” pode ser facilmente associado ao estado da consciência de cada um. O “tesouro no céu” é o estado de paz derivado de uma consciência tranquila pelo dever cumprido. Ao contrário de algumas interpretações, nesta passagem Jesus não critica os “tesouros na terra”; critica o seu “acúmulo”. Como fartamente explicado pelos Espíritos na codificação[iii], a riqueza terrena tem uma finalidade útil, quando posta em movimento. Sua estagnação é que gera um grande problema para quem a detém. A experiência mostra a dificuldade de readaptação ao plano espiritual dos Espíritos que desencarnaram com a conta bancária cheia, com investimentos em pleno rendimento e escrituras de inúmeros bens terrestres.

Obviamente o problema não está no dinheiro, nas ações ou nos imóveis. Está na ilusão, fortemente arraigada, de que estas coisas são “nossas”. Inconscientemente confundimos posse e propriedade. Precisamos lembrar que temos posse do que é material, mas só temos propriedade do que é espiritual (relacionado a nós mesmos).

O que é material deteriora. Segue a lei física natural. Não está sob nosso controle. A carne do corpo físico que estamos usando apodrecerá e desaparecerá. Da mesma forma, “nossos” bens materiais – sejam poucos ou muitos – serão dispersados pelos que continuarem encarnados. “Os únicos bens de duração permanentemente”, lembra a benfeitora Joanna de Ângelis, “são os tesouros dos sentimentos, da cultura e das virtudes”[iv].

A lição é muito antiga; mas a nossa insistência em não compreendê-la, também.


[i] Nosso Lar. André Luiz/Francisco Cândido Xavier.

[ii] O céu e o inferno. Allan Kardec. Cap. 2.

[iii] O Evangelho segundo o Espiritismo. Allan Kardec. Cap. 16.

[iv] Vida Feliz. Joanna de Ângelis/Divaldo Franco. Mensagem 61.

Ely Edison Matos

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