A tua fé te salvou
Há muitos anos estava atendendo uma jovem em meu trabalho. Muito triste, com pouca animação para as coisas, apesar de seus vinte e poucos anos e universitária. Pertencente a uma família de posses, filha única e muito bela. Seu modo de falar demonstrava uma sensação de entrega, de apatia, que não condizia com suas possibilidades.
No primeiro encontro compareceu à consulta com seu, então, namorado. Rapaz de uns 28 anos, barba por fazer, gorro de lã colorido e roupas condizentes com os hippies da década de 1960. Interferiu muito nas respostas da jovem.
Num segundo encontro, desta vez só, ela respondeu melhor às questões que eu fazia novamente. E era muito nítida a diferença de gênios e de interesses entre ela e seu namorado, a ponto de ela ser chamada pelos amigos dele de ”careta”, porque não queria experimentar o “barato” deles (maconha).
Na primeira oportunidade que ela me permitiu uma liberdade maior, perguntei-lhe se a diferença de temperamentos entre ela e seu namorado não atrapalhava o relacionamento. E a resposta me clareou muitas coisas: “Antes mal acompanhada do que só!”
E desta resposta veio toda uma história de sua educação, da incompatibilidade dos pais, de cada um deles cuidarem mais das suas vidas do que da própria filha. E ela falava da vontade de ter uma avó… e não tinha. Descrevia as dificuldades de se relacionar com colegas da escola, de apresentar vergonha disso tudo…
Com o tempo, e muita conversa, ela foi começando a vislumbrar que a vida era dela, que era responsabilidade dela o que fazer com seu tempo na Terra. Interessou-se muito pela filosofia espírita. Fiz muitas indicações para ela. E foi muito gratificante ver sua mudança para melhor.
Jamais, num processo terapêutico, devemos falar o que uma pessoa deve fazer. Mas, mostrar para ela caminhos para pensar e descobrir por si mesma foi um acompanhamento muito gratificante. Tomou as rédeas da sua vida, estudou com mais afinco, resolveu-se por ficar sem ninguém por um período, enxergou os pais de outro modo… e não mais a vi desde aí. Não precisava. Disse-me ela que a fé que ela conquistou foi-lhe a salvação.
O autoconhecimento e as autodescobertas são libertadores. E nisso, a Doutrina Espírita é mestre. Ensina-nos e mostra-nos a verdade que nos liberta. Aponta-nos o papel do Espírito na evolução, o papel do Homem na reencarnação… Ensina-nos a sermos Homens de Bem…
Quando o homem se liberta de si mesmo, de suas crenças limitantes, de seus valores nivelados por baixo, de seus medos, a vida se abre em sucesso e trabalha positivamente. Quem se descobre não reclama, não desanima, mantem a fé acesa e abastecedora de forças.
Esse é o nosso programa, evoluir, progredir, com mais qualidade, mais convicção.
Em Mateus 9:20-22, observamos o poder da fé: “E eis que uma mulher que havia já doze anos padecia de um fluxo de sangue, chegando por detrás dele, tocou a orla de sua roupa; porque dizia consigo: se eu tão-somente tocar a sua roupa, ficarei sã. E Jesus, voltando-se, e vendo-a, disse: Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E imediatamente a mulher ficou sã.”
Fernando Emílio Ferraz Santos
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