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Fé racional

No capítulo XIX de O Evangelho segundo o Espiritismo, “A fé transpõe montanhas”, Allan Kardec comenta sobre a fé raciocinada de maneira muito objetiva.

Ensina o mestre lionês que a fé pode ser cega ou raciocinada. Aponta que a fé cega não examina, aceita sem discernir o verdadeiro do falso, indo de encontro à razão. A fé raciocinada, no entanto, sustenta-se na lógica e nos fatos, enfrentando os exames críticos de qualquer período histórico.

Kardec afirma que [1] “fé inabalável só é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da humanidade”. Isso estabelece um critério importante: a fé que se baseia no medo ou na ignorância não é sólida, firme. Dentro da Doutrina Espírita, a fé não pede que a pessoa “desligue” a razão para acreditar. Justamente o contrário: deve-se usá-la ao máximo, baseando-se no amor e na ética cristã. O ideal é estudar, refletir, perguntar. E daí sentir-se a convicção.

Deus deu ao espírito a inteligência para distinguir o bem do mal e para conhecer a lei divina ou natural, que está escrita na consciência. À medida que o homem desenvolve o seu senso moral e sua capacidade de raciocinar, sua compreensão da lei natural se torna cada vez mais profunda. Por isso, o uso da razão é um dever e um instrumento de progresso e de discernimento espiritual.

Allan Kardec demonstra que a revelação é progressiva, acompanhando a evolução da humanidade. Não é uma revelação milagrosa, mas pela lógica, pelos fatos e pela moral. A fé espírita se vincula à observação e ao método de investigação dos fenômenos espirituais.

Kardec define que a fé genuína implica poder de vontade, permitindo à pessoa movimentar suas forças interiores para objetivos nobres. O exame metódico é o que transforma a fé em convicção raciocinada, resultado da experiência e do estudo, sem imposições exteriores.

A fé raciocinada reflete-se até na maneira como os espíritas encaram a doença, os problemas familiares e sociais, as perdas. Dá importância à prece, à transmissão fluídica curadora, ao apoio da espiritualidade.

Uma das consequências mais importantes da fé raciocinada é a consolação que ela propicia frente às provas inevitáveis da existência. O conhecimento da continuação da vida após a morte biológica e de que os afetos não se rompem transforma a dor em esperança e aprendizado.

Ainda sobre a fé, vemos no Evangelho, em Mateus, capítulo 17, versículo 20 [2]: “E Jesus lhes disse: Por causa de vossa incredulidade; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível.”

Além disso, outro ensinamento de Jesus está em João, capítulo 8, versículo 32 [3]: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”

Tenhamos fé convicta, racional e poderosa.

Referências bibliográficas:

[1] O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XIX, Item 7.

[2] O Novo Testamento, Mateus 17:20.

[3] O Novo Testamento, João 8:32.

Fernando Emílio Ferraz Santos

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