CARE 70

Convite ao autoconhecimento

A pergunta é comum a quase todos que resolveram pensar na vida: há que ter um sentido para viver, há que ter uma finalidade para os sofrimentos, as disparidades de situações sociais, as enfermidades que causam tanta dor…

Aqueles que honestamente procuram respostas encontram explicações as mais variadas. Mas a Doutrina Espírita é a que mais nos esclarece sobre isso. Explicando-nos sobre a lei das existências sucessivas, fica muito mais lógico entender essas circunstâncias que enfrentamos.

Somos Espíritos endividados de outros tempos. E, como podemos perceber, ainda não estamos empenhados com vontade no resgate desses nossos débitos. O lado positivo é que já vislumbramos as causas e já nos dispomos a começar nossa mudança para melhor.

Ainda não possuímos virtudes definitivas, mas estamos aprendendo. E, em geral, não mais descambamos para a criminalidade, a crueldade e a vingança.

Ainda não conseguimos nos livrar dos equívocos passados, das tendências negativas que são recentes demais. Mas já nos identificamos na condição de Espíritos inferiores, aceitando a obrigação de nos reeducarmos.

Devemos corrigir-nos sempre, mas não nos deixar levar pelo desânimo de um remorso imobilizante.

Valorizemos a vida pelo que ela nos apresenta de útil e belo, nobre e grande.

Precisamos melhorar nosso próprio caminho com urgência. Porém, devemos também evitar remexer inutilmente as próprias feridas, aumentando-lhes a extensão.

A solução é trabalhar e servir. Lembremo-nos das palavras de Paulo em 1 Coríntios 15:9-10: “Não sou digno de ser chamado apóstolo, mas pela graça de Deus, já sou o que sou.”

E Jesus nos dá a maior lição. Em João 16:33, diz: “Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo”.

Vencer o mundo, nas palavras de Jesus, é vencer a si mesmo.

Allan Kardec perguntou aos Espíritos Superiores, encarregados de nos trazer a terceira revelação da lei de Deus (questão 919 de O Livro dos Espíritos):

— Qual o meio mais prático e eficaz que o homem tem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?

Os Espíritos Superiores lhe responderam, por intermédio das jovens que fizeram o intercâmbio, denominadas por Allan Kardec de médiuns, criando assim o neologismo:

— Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.

Insiste Kardec, na questão 919a: — Conhecemos toda a sabedoria dessa máxima, porém, a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?

Na resposta, Santo Agostinho mostra como fez para conhecer-se a si mesmo, dando-nos a receita:

— Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava em revista o que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma.

O caminho é esse, o convite é dado. Que cada um de nós faça sua parte para si mesmo.

Fernando Emílio Ferraz Santos

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