Escolhas

Conversando com uma paciente sobre sua doença, eis que ela me diz ter decidido não mais se tratar. Não aguentava mais seguir tanta dieta, medicação, aplicações químicas no sangue… Para quê? Para prolongar o sofrimento? Para esticar um tempo que não será longo?

“Ainda tenho um tempo de vida, não sei quanto. Vou, então, fazer o que gosto. Vou me divertir, mas eu não bebo, vou com a vontade de sair dessa pasmaceira. Gosto de música, de dançar…”

Questionada sobre ficar pior do que está, porque sente dores leves ainda, a resposta foi incisiva. “Não tenho medo disso, sei que não vai durar muito. Os especialistas já me explicaram tudo. Mas acham uma temeridade eu tomar esta decisão. Mas e meu livre arbítrio?”

Percebendo nela um conhecimento mais profundo da lei de causa e efeito, enveredei por este caminho. Perguntei se ela tinha informação de que uma de nossas prerrogativas é cuidar bem do corpo físico como instrumento de evolução, enquanto nossas forças permitirem… A resposta? “Não sei se acredito mais nisso!”

Mais algumas considerações sobre a descrença foram feitas por ela. Não adiantava inquirir mais. A fase de negação estava instalada. A paciente reconhecia plenamente justificada sua doença, porque suas atitudes da adolescência até a vida adulta foram uma sequência de liberdades extremas em várias áreas, desde as sexuais até a de drogadição.

Até onde ia sua aceitação da doença (e a consciência de não haver cura) e até onde seria uma atitude de rebeldia ante um fato que sabia ser unicamente de sua responsabilidade? Na minha percepção, essa paciente sabe muito bem o que está fazendo. Está pagando para ver como vai ficar e disse que escolheu este caminho com consciência.

Em O Livro dos Espíritos, à questão 843, Kardec pergunta: “O homem tem livre arbítrio nos seus atos?” E a resposta: “- Pois que tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre arbítrio o homem seria uma máquina.”

Para nós, espíritas, a doença, sendo prova ou expiação, objetiva conduzir o homem ao seu destino, conscientizando-o do seu papel na evolução pessoal, diminuindo a face ameaçadora da enfermidade. Aquilo que parece injustiça é, na realidade, uma oportunidade de fortalecimento para que as dores e os sofrimentos sejam suportados com maior grandeza do espírito. A doença é um aviso e pode ter um significado muito maior do que se imagina.

Num diálogo com Chico, Elias Barbosa, no livro No Mundo de Chico Xavier, traz-nos uma consideração muito oportuna. Ele pergunta ao médium: “- Desejará você contar-nos alguma coisa de sua experiência ao contato de Emmanuel, com respeito à atitude que devemos assumir perante as nossas próprias doenças?” E Chico responde: “Nosso amigo espiritual (Emmanuel) é de opinião que precisamos guardar calma e paciência perante quaisquer enfermidades de que sejamos acometidos procurando, ao mesmo tempo, atenuá-las ou afastá-las por tratamento adequado. (Grifo nosso)

Chico disse que ele mesmo estava com um sério problema nos olhos e perguntou ao Espírito Amigo: “- Então, devo prosseguir sob a orientação da medicina?” E Emmanuel responde: “- Sim, como não? A medicina está no mundo em nome da Divina Providência.” “Quer dizer que preciso tratar-me?” “- Com o máximo cuidado. O corpo é comparável à enxada e o Espírito reencarnado lembra o lavrador. Todo zelo do lavrador é necessário para conservar a enxada em condições de trabalhar com acerto e segurança.”

Enfim, como os Espíritos nos ensinam, a escolha é nossa. Os caminhos são nossa opção. Desejo ardentemente que a paciente em questão passe por aprendizagens em todos os momentos, e que seu sofrimento, em que nível for, seja um resgate com humildade e resignação, onde quer que esteja agora.

Fernando Emílio Ferraz Santos

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