Editorial
Gratidão pelas provas vencidas
À medida que nos aproximamos do encerramento de mais um ciclo terrestre, somos naturalmente conduzidos a um momento de reflexão sobre os caminhos percorridos, as experiências vivenciadas e, sobretudo, sobre as provas que marcaram nossa jornada ao longo deste ano.
Quantas vezes, diante das dificuldades que se apresentaram, sentimo-nos desamparados, questionando o porquê de determinadas aflições? Quantas lágrimas foram derramadas em momentos de aparente solidão? Quantas noites atravessamos inquietos, buscando compreender o sentido de nossas dores?
Hoje, com o benefício da distância temporal e, esperamos, com algum amadurecimento espiritual, podemos olhar para trás e reconhecer que cada obstáculo superado representou uma oportunidade de crescimento. Como nos ensina Allan Kardec, as provas da vida não são castigos divinos, mas instrumentos de aperfeiçoamento que nós mesmos escolhemos antes de reencarnar, conscientes de nossas necessidades evolutivas.
A sabedoria oculta nas adversidades
Recordemo-nos de que não existem tempestades permanentes. As dificuldades que enfrentamos são transitórias, mas os aprendizados que delas extraímos tornam-se patrimônios eternos da alma. Aquela doença que nos obrigou a repensar prioridades, aquela perda que nos ensinou sobre o desapego, aquele conflito que nos mostrou a necessidade de exercitar a tolerância e o perdão – todas essas experiências, por mais dolorosas que tenham sido no momento presente, deixaram marcas profundas em nós.
A gratidão pelas provas vencidas não significa alegrar-se com o sofrimento ou cultivar uma postura masoquista diante da vida. Significa, isto sim, reconhecer com humildade que as dificuldades nos poliram como o cinzel do escultor que revela a forma bela oculta no mármore bruto. Significa compreender que, sem a resistência das adversidades, permanecemos estagnados em nossos vícios morais e em nossas imperfeições.
O evangelho nos momentos difíceis
Jesus, o Mestre por excelência, nos legou exemplos sublimes de como atravessar as provas com dignidade e aproveitamento espiritual. No Getsêmani, diante da suprema provação que se avizinhava, não fugiu nem revoltou-se, mas entregou-se à vontade do Pai com a célebre súplica: “Afasta de mim este cálice; todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua”. Quantas vezes, em nossas pequenas aflições, nos esquecemos dessa lição de confiança e resignação ativa?
O Espiritismo nos esclarece que a resignação não é passividade conformista, mas aceitação consciente dos processos educativos pelos quais precisamos passar. É continuar trabalhando, servindo, amando, ainda que as lágrimas embacem nossa visão. É perseverar na prática do bem mesmo quando tudo parece conspirar contra nós.
Transformando Dor em Crescimento
Ao examinarmos este ano que se encerra, convidamos cada leitor a realizar um exercício íntimo de retrospectiva. Identifique suas principais dificuldades e pergunte-se sinceramente: o que aprendi com esta experiência? Como ela me transformou? Que aspecto de meu caráter pôde ser trabalhado graças a esta prova? Em que sou hoje melhor do que era antes dela?
Talvez descubramos que a situação financeira adversa nos ensinou a simplicidade e a desapegar-nos do supérfluo. Que o adoecimento de um ente querido nos aproximou da família e nos fez valorizar cada momento compartilhado. Que a incompreensão no trabalho nos obrigou a desenvolver a paciência e a capacidade de nos colocar no lugar do outro. Que a perda dolorosa nos abriu os olhos para a realidade da vida espiritual e fortaleceu nossa fé na imortalidade da alma.
Preparando-nos para novas jornadas
A gratidão pelas provas vencidas não nos isenta de futuras dificuldades – a vida terrena é, por sua própria natureza, uma escola de aperfeiçoamento contínuo. Porém, quando cultivamos essa gratidão, transformamos nossa postura diante das adversidades. Deixamos de ser vítimas passivas para nos tornarmos aprendizes ativos, conscientes de que cada experiência, por mais amarga que pareça, traz em si uma semente de evolução.
Como nos ensinam os Espíritos, o ser que sofre com resignação, sem murmurar, já está progredindo. Quantos de nós podemos, honestamente, dizer que atravessamos todas as nossas provas sem murmuração? A simples tomada de consciência de nossas imperfeições já representa um avanço, pois só reconhecendo nossas falhas podemos trabalhar para corrigi-las.
Um olhar para o futuro
Ao adentrarmos um novo ciclo, levemos conosco não apenas as cicatrizes de nossas batalhas, mas principalmente a sabedoria que delas extraímos. Cultivemos a certeza de que não estamos sozinhos em nossa jornada – os benfeitores espirituais acompanham nossos passos, amparando-nos nas quedas, inspirando-nos nas decisões e regozijando-se com nossas vitórias morais.
Que possamos encarar as próximas provas – pois certamente virão – não com temor ou revolta, mas com a serenidade de quem compreende que são oportunidades de crescimento. Que desenvolvamos a capacidade de agradecer não apenas pelas alegrias e conquistas, mas também pelas dificuldades que nos impulsionaram para frente.
Lembremo-nos que cada obstáculo superado é uma vitória da luz sobre as sombras que ainda habitam em nosso mundo íntimo. Cada lágrima enxugada com dignidade é uma pérola acrescentada ao tesouro imperecível de nossa consciência.

Renovemos nossos compromissos
Neste momento de renovação, façamos o propósito de enfrentar as futuras adversidades com mais fé, mais compreensão e mais amor. Que saibamos reconhecer, em cada desafio, a mão misericordiosa da Providência Divina lapidando nossas imperfeições. Que tenhamos a humildade de agradecer pelas lições recebidas, mesmo quando vieram embrulhadas em papel de dor.
E que, ao final de cada dia, de cada mês, de cada ano, possamos olhar para trás e dizer, com sinceridade: “Obrigado, Pai, pelas provas que me permitiste vencer. Graças a elas, sou hoje um pouco melhor do que ontem. Ajuda-me a continuar nesta senda de progresso, certo de que Tua sabedoria infinita sabe exatamente do que preciso para evoluir”.
Que o período que se inicia seja de paz, trabalho e crescimento espiritual para todos. E que a gratidão pelas provas vencidas ilumine nossos corações, tornando-nos mais compassivos com aqueles que ainda atravessam seus desertos particulares, pois sabemos, por experiência própria, que após a noite mais escura sempre amanhece um novo dia.
Que Deus abençoe a todos!
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