Política e religião
Há pessoas que se declaram avessas à política por serem religiosas e verem a política como algo incompatível com o que se aprende nas religiões. Acusam os políticos de serem interesseiros, egoístas e até desonestos, numa generalização incompatível com o que se aprende nos ambientes religiosos, de modo geral. Outras, por interpretarem o “não julgueis”, ao pé da letra, procuram não formar juízo sobre nada nem ninguém, recusando-se a analisar, avaliar a atuação desses que, queiramos ou não, representam o povo nas decisões legais e administrativas, em todos os níveis.
É bem verdade que a discussão política em forma de bate-boca não produz bons frutos, mas a busca de informações, a troca respeitosa, serena de ideias são atitudes inteligentes e básicas para quem deseje informar-se, a fim de não se omitir ou de elaborar juízos errôneos que o levariam a tomar posições equivocadas que resultariam em votos inconscientes ou até mesmo irresponsáveis.
O voto obrigatório é altamente alienante, pois apaga no eleitor a noção do direito legítimo de escolher seu representante, substituindo essa nobre noção de direito por uma imposição legal. O voto obrigatório aprisiona, enquanto o voto facultativo liberta. O voto obrigatório leva o eleitor inconsciente a votar não no mais capaz, naquele que apresenta uma proposta de atuação séria, ponderada, honesta, baseada em estudos e reflexões, no desejo de servir, mas sim no candidato mais sagaz, mais ardiloso, mais capacitado a olhar o interesse próprio e não o da coletividade a que se propõe representar.
Já o voto facultativo possibilita uma conscientização maior. O eleitor, no regime de voto facultativo, comparece conscientemente às urnas, visando a contribuir com o seu voto para um aprimoramento no processo social da comunidade em que vive.
A responsabilidade do voto é grande mas, infelizmente, não faz parte dos alertamentos religiosos que, comumente, separam a vida profana da vida religiosa como se fossem campos distintos, como se Deus se fizesse presente num ambiente e ausente noutro.
Devido à desonestidade de alguns políticos, há pessoas que, generalizando, consideram a política uma prática abominável, incompatível com a prática religiosa. Isso não é verdade.
No meio espírita há exemplos edificantes que demonstram a perfeita compatibilidade entre política e religião. Bezerra de Menezes foi vereador e deputado federal em vários mandatos, sem que a sua condição de espírita sofresse qualquer restrição, fosse maculada, ou denotasse qualquer desacordo com os preceitos do Evangelho. Também Francisco Leite de Bittencourt Sampaio foi deputado e, um exemplo mais recente: José Freitas Nobre, digno deputado federal. Todos com desempenho exemplar, norteado nos preceitos do Evangelho.
Diante de exemplos de atuação honesta, equilibrada de outros espíritas e de pessoas de outras religiões que se dedicaram e se dedicam à política, vê-se claramente que essa atividade não é incompatível com os preceitos de conduta delineados pelo Evangelho e recomendados pelo Espiritismo.
Vivemos em sociedade e a participação na vida pública deve ser exercida por todo aquele que se sinta capacitado a colaborar com eficiência nesse campo, às vezes difícil, é verdade.
Devemos nos lembrar de que a vida de insulamento e de omissão não foi recomendada por Jesus. Pelo contrário, tendo Ele próprio dado testemunho disso, tanto na sua vivência pessoal, quanto em recomendações que fez: Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos. (Lc, 10:3) e Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. (Mat, 10:16).
Entretanto, com o mesmo cuidado que tomamos ao separarmos nossas atividades profissionais do ambiente espírita, devemos fazê-lo relativamente à atividade política.
Cada atividade a seu tempo e em seu lugar.
José Passini
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