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As bem-aventuranças

O momento histórico deste ensinamento está no Sermão do Monte, proferido por Jesus há dois mil anos. Para uma melhor compreensão, convém-nos lembrarmos de que o ambiente no qual Jesus esteve inserido fazia parte do grande império romano, que estendia as asas das suas águias do Atlântico ao Índico.

O jugo romano, porém, pesava de modo especial sobre a Palestina, ao contrário dos outros povos. Significa dizer que o discurso de Jesus era como que um grito de alerta contra esse poderio. Assim sendo, em cada um de seus ensinamentos, não perdia a oportunidade de realçar esse tipo de autoridade externa, principalmente na pobreza com que deixavam o povo palestino. Naquela época, os conceitos éticos e morais ainda não estavam definidos, a sociedade vivia em um contexto perverso.

Ao mesmo tempo o paganismo, o culto a vários deuses estava entrando em decadência. É nesse momento, em que os primeiros sinais para a aquisição da consciência individual e coletiva aparecem, que chega Jesus para auxiliar e facilitar a transição da barbárie para a civilização.

Na língua hebraica, “bem-aventurança” significa em marcha, e a infelicidade é estar parado, parado sobre a imagem, parado sobre os sintomas, parado sobre as memórias. Na filosofia grega, quer dizer felicidade. E a felicidade é o fim último e o supremo bem do homem, o que constitui o verdadeiro sentido de sua vida.  

Portanto, quando Jesus declarou: “Bem-aventurados os aflitos…”, não estava exaltando as aflições, mas sim as pessoas que sabem sofrer sem revolta, sem lamentações inúteis, sem culpar outros ou situações pelos seus males.

Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus. Jesus ensina que não basta abster-se do mal. É nosso dever praticar o bem. Não há ninguém que não possa fazer o bem. Em O Livro dos Espíritos questão 643, Allan Kardec ensina que somente o egoísta nunca encontra oportunidade de o praticar. Basta que se esteja em relação com os outros para se ter ocasião de fazer o bem e cada dia da existência oferece essa possibilidade a quem não estiver cego pelo egoísmo. Fazer o bem não consiste somente em ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, toda vez que o auxílio se fizer necessário. 

O mestre de Lion assevera que a verdadeira pureza não está somente nos atos; está principalmente no pensamento, porque aquele que tem puro o coração, nem sequer concebe a ideia do mal. Pureza não tinha o significado de “imaculado” como hoje, mas correspondia à ideia de “sem mistura”, sem divisão, sem alteração. Significa um coração puro, consciência sem divisão, ser autêntico.

Bem-aventurados os brandos, porque eles possuirão a Terra. Possuir a Terra significa adquirir uma consciência em saber se relacionar com o todo ou de ter uma participação pessoal no todo. Por isso o Mestre também asseverou: “Vós sois o sal da terra e a luz do mundo”. A função primária do sal é conservar, condimentar, preservar fazer a diferença. Cada um de nós, discípulos de Jesus, devemos ser sal e luz; condimentando e iluminando os homens no caminho para a evolução.

Um artigo da União Espírita Mineira ensina: “Somente poderemos assimilar o sentido exato das bem-aventuranças do Evangelho se dispomos do conhecimento da Imortalidade da Alma, da Reencarnação e da Lei de Causa e Efeito, uma vez que somente com esse conhecimento pode se conceber como bem-aventurado quem está sofrendo hoje ou tendo fome e sede de justiça. As Bem-aventuranças não se limitam a esperanças e consolações futuras, mas representam uma realidade que se refletirá no íntimo de cada um tão logo nos identifiquemos com a humildade, a mansidão, a misericórdia, a brandura, a bondade.”

Luiz Eduardo Prado de Oliveira

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