Almas vazias e o rio da vida
O Apocalipse, escrito pelo João Evangelista, por volta do ano 90 d.C., encerra a coleção de livros que formam o Novo Testamento e conclui toda a literatura bíblica. Por seu teor e conteúdo, o Apocalipse é considerado a bússola escatológica para o tempo da transição planetária, em especial pelo fato da narrativa revelar os ciclos do movimento cristão e descortinar os principais acontecimentos que, ao longo dos séculos, marcam o período da germinação da semente do Evangelho para a transformação do mundo e as consequências da sua rejeição.
A sua riqueza e sabedoria são de tal profundidade que, se reunirmos todos os estudos, pesquisas e livros interpretativos sobre o Apocalipse, ainda assim, não seria esgotada a sua mensagem que se comporta de forma transcendente e multidimensional.
Um dos ciclos iniciais de que trata o Apocalipse se refere ao período de semeadura e expansão da Boa Nova, representado sob a forma de sete igrejas, cada qual representando um determinado período de tempo na história. A última igreja, denominada Laodiceia, conhecida como sendo a sétima igreja do Apocalipse, se situa no intervalo de tempo que precede a grande transição planetária. A metáfora da criação, iniciada na Gênesis de Moisés, inaugurando os textos bíblicos, agora assume a forma sintética de sete igrejas, comparada a uma nova semana que se desenvolve no fluxo temporal com a criação da Casa do Caminho, em Jerusalém, primeiro núcleo cristão existente, e culminando na metáfora da sétima igreja, chamada Laodiceia, a qual aponta para a cristandade dos tempos modernos.
Laodiceia é descrita como sendo uma comunidade global, entretida com seus grandes templos, envaidecida por suas posses, cega por seu orgulho, empobrecida de valores eternos e morna em sua dedicação, não sendo fria nem quente. É um convite irrecusável para retornarmos à essência dos ensinos de Jesus e à simplicidade de seus ensinos.
Mesmo estando aparentemente abastada, Laodiceia está repleta de almas vazias, na descrição de Divaldo Franco, tema de recente livro produzido por sua lavra mediúnica. O conforto, a tecnologia, o vestuário sofisticado não conseguem disfarçar o vazio que o ser humano carrega dentro de si, o qual só consegue ser preenchido por algo eterno, infinito, ligado à fonte e à Causa primária de todas as coisas.
É indispensável relembrar o nobre codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, em A Gênese, Cap. XV, itens 44 e 63, onde sabiamente nos esclarece: “O maior milagre que Jesus operou, o que verdadeiramente atesta a sua superioridade, foi a revolução que seus ensinos produziram no mundo.” Que a nossa sede seja pelas águas que jorram para a vida eterna (João 4:14).
Rafael dos Andes
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