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De agora em diante

Qual o objetivo do Espiritismo? Como ele pode contribuir para o avanço da humanidade? [1] “Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio do presente, lhe é dado preparar o seu futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos.”

Antes de mais nada, o que é o materialismo? “Sistema dos que pensam que no homem tudo é matéria e que, assim, nele nada sobrevive à destruição do corpo.” E o materialismo, “com o proclamar para depois da morte o nada, anula toda responsabilidade moral ulterior, sendo, conseguintemente, um incentivo para o mal; que o mau tem tudo a ganhar do nada.” [2] Isso é um convite — ou pior, uma justificativa e um incentivo — ao egoísmo e ao orgulho. Se não tem nada depois, o agora significa tudo; logo, devo aproveitá-lo ao máximo. Nada esperando depois da morte, nada obsta que aumente os gozos do presente.

[3] “O fim providencial das manifestações é convencer os incrédulos de que tudo para o homem não se acaba com a vida terrestre, e dar aos crentes ideias mais justas sobre o futuro.” Este o propósito último do Espiritismo: [4] “urge socorrer a Religião, sepultada nos arquivos teológicos dos templos de pedra, e amparar a Ciência, transformada em gênio satânico da destruição.” É fazer a reconciliação entre ciência e religião. Munir a religião com bases lógicas e corrigir os erros humanos que se lhe impregnaram com o tempo; com isso, ela tornar-se-á mais facilmente aceita por não ferir nenhum preceito racional, fornecendo bases morais para o correto desenvolvimento da ciência. Afinal, a ciência é apenas uma ferramenta que pode ser bem ou mal utilizada, a depender dos preceitos que norteiam as pessoas.

Ao trazer a certeza do futuro, o Espiritismo muda radicalmente a nossa forma de encarar as vicissitudes da vida. Ele muda o nosso ponto de vista:

[5] “Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, breve estada num país ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguir-se-lhes um estado mais ditoso. Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às preocupações da vida, resultando-lhe daí uma calma de espírito que tira àquela muito do seu amargor.

Pelo simples fato de duvidar da vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente. Nenhum bem divisando mais precioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos. E não há o que não faça para conseguir os únicos bens que se lhe afiguram reais. A perda do menor deles lhe ocasiona causticante pesar. Colocando o ponto de vista, de onde considera a vida corpórea, no lugar mesmo em que ele aí se encontra, vastas proporções assume tudo o que o rodeia. O mal que o atinja, como o bem que toque aos outros, grande importância adquire aos seus olhos. Àquele que se acha no interior de uma cidade, tudo lhe parece grande: assim os homens que ocupem as altas posições, como os monumentos. Suba ele, porém, a uma montanha, e logo bem pequenos lhe parecerão homens e coisas.

Daí se segue que a importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura.”

Outra fundamental parte do Espiritismo são as consolações para o sofrimento. Ele traz quatro aspectos fundamentais para lidar com as tormentas da vida:

  1. Todo sofrimento tem uma causa justa. [6] “Se [Deus] é soberanamente bom e justo, não pode agir caprichosamente, nem com parcialidade. Logo, as vicissitudes da vida derivam de uma causa e, pois que Deus é justo, justa há de ser essa causa.”
  2. Cada um tem plena capacidade e recursos para enfrentar o seu sofrimento. É o famoso ditado: “Deus dá o frio conforme o cobertor”;
  3. Todo sofrimento é passageiro; “isso também passa”;
  4. O sofrimento é uma forma de alcançar a verdadeira felicidade decorrente da purificação da alma que busca extirpar seus vícios e desenvolver suas virtudes.

[7] “O homem que sofre assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o credor diz: ‘Se me pagares hoje mesmo a centésima parte do teu débito, quitar-te-ei do restante e ficarás livre; se o não fizeres, atormentar-te-ei, até que pagues a última parcela.’ Não se sentiria feliz o devedor por suportar toda espécie de privações para se libertar, pagando apenas a centésima parte do que deve?

Tal o sentido das palavras: ‘Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados.’ São ditosos, porque se quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão livres.”

Bem como, por exemplo, a perda de pessoas queridas. Quão consoladora é a ideia de que é possível ter este parente ou amigo ao seu lado, lhe infundindo esperança e bons conselhos, que tão logo poderão se rever, que o amor e o afeto não cessam no túmulo?

O Espiritismo também tem por missão despertar a regeneração moral em cada um. [8] “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.” Repare que não foi dito “perfeição”, mas, por agora, um esforço sincero de domar seus vícios e, com isso, manifestar sua transformação moral. Afinal, se não o fizer, haverá consequência pelo talento enterrado. Bem como se o fizer, chegar-se-á mais perto da verdadeira felicidade. O que temos feito de diferente por pertencermos a esta doutrina consoladora?

Referências bibliográficas:

[1] O Livro dos Espíritos, Questão 799.

[2] Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, Vocabulário espírita.

[3] O que é o Espiritismo, Capítulo II, Item 50.

[4] Missionários da Luz, Introdução por Emmanuel.

[5] O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo II, Item 5.

[6] O Evangelho segundo o Espiritismo , Capítulo V, Item 3.

[7] O Evangelho segundo o Espiritismo , Capítulo V, Item 12.

[8] O Evangelho segundo o Espiritismo , Capítulo XXVII, Item 4.

Caio Almeida

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