Quando a vida prova, a alma cresce: Allan Kardec, Joanna de Ângelis e Carl G. Jung em diálogo
A vida sempre nos coloca diante de provas. A cada uma delas, existe um ponto de decisão: ou aceitamos a experiência como oportunidade de crescimento, ou nos revoltamos, mergulhando em ansiedade, amargura e sintomas. Esse ensinamento encontra eco na obra de Allan Kardec, nos conselhos de Joanna de Ângelis e na psicologia profunda de Carl Gustav Jung. Três caminhos distintos que convergem em uma mesma lição: o sofrimento inevitável pode ser transformado em degrau de evolução.

No Capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo [1], Kardec diferencia o “bem sofrer” do “mal sofrer”. Sofrer bem é enfrentar a dor sem revolta, buscando nela lições morais; sofrer mal é murmurar, queixar-se e agravar ainda mais a dificuldade. Para Kardec, as provas são instrumentos de educação e de progresso espiritual, jamais castigos arbitrários. Em O Livro dos Espíritos [2], ao tratar da Lei do Progresso, ele afirma que avançar é condição da própria natureza humana: resistir apenas atrasa o aprendizado.
Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Franco, amplia a visão espírita e traduz para a psicologia da alma: resignar-se não é cruzar os braços, mas aceitar a realidade sem revolta e atuar para transformá-la. Para ela, muitos estados ansiosos resultam da somatória de fatores físicos, emocionais e espirituais, e podem ser atenuados com recursos simples e profundos: autoconhecimento, oração, relaxamento e meditação. Joanna lembra ainda que a dor enfrentada com resignação “diminui de intensidade”, pois a mente deixa de amplificá-la com queixas e medos.
Do ponto de vista psicológico, Jung observou que evitar o sofrimento necessário gera adoecimento. Em suas palavras: “A neurose é sempre um substituto para um sofrimento legítimo.” [3] Quando a pessoa foge de enfrentar perdas, limites ou conflitos, seu inconsciente cria sintomas como forma de compensação. O caminho saudável é viver esse sofrimento consciente, integrando-o à própria história. É o que ele chamou de processo de individuação: tornar-se si mesmo, reconhecendo a sombra e amadurecendo com ela. Para Jung, aceitar é dar nome ao que se sente, integrar e seguir; resistir cegamente é multiplicar sintomas.
Avaliando os três pontos de vistas, pode-se traçar um caminho prático a se percorrer composto por cinco atitudes:
- Nomear a prova: reconhecer com clareza o desafio em vez de negá-lo.
- Escolher o “bem sofrer”: aceitar sem revolta e assumir tarefas concretas para aprender.
- Cuidar da emoção: usar a oração, a auto-observação e a meditação como higiene mental.
- Trabalhar a sombra: perceber os medos e apegos que a prova revela, integrando-os no processo de amadurecimento.
- Serviço no bem: agir em favor do próximo, o que fortalece a alma e ressignifica a dor.
Em síntese, Kardec ensina que as provas educam; Joanna mostra como cultivá-las com serenidade e responsabilidade; Jung explica que fugir delas é adoecer, enquanto enfrentá-las é crescer. Em todos, o recado é o mesmo: o desafio é inevitável, mas a ansiedade é opcional.
Aceitar com coragem e agir com retidão é transformar dor em sabedoria. Revoltar-se e evitar o inevitável é perpetuar sofrimento. Eis a escolha que a vida nos coloca e que, uma vez feita, pode mudar a direção de nossa caminhada evolutiva.

Referências bibliográficas:
[1] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V.
[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, “Lei do Progresso”.
[3] JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Religião: Oriente e Ocidente. Obras Completas, vol. 11, §129.
Paulo Henrique de Assis
Página 11