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De agora em diante

Allan Kardec diz, em diversas oportunidades, que o Espiritismo há de ser uma crença universal. Os Espíritos também, especificamente na resposta da questão 798 de O Livro dos Espíritos: “Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque está na natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos.”

Entretanto, olhando para o mundo quase 170 anos depois do advento da doutrina em 1857, o cenário é um pouco diferente. Estima-se que, no mundo de aproximadamente oito bilhões de habitantes, 13 milhões sejam espíritas, sendo que quase quatro milhões estão apenas no Brasil. Afinal, se o Espiritismo é a verdade, por que tão devagar?

O Espiritismo veio contribuir para a promessa de Jesus de que “haverá um só rebanho e um único pastor” (João 10:16), ou seja, um dia os homens se unirão por uma crença única. Mas como isso se operaria, já que “todas [as religiões] querem a unidade, mas cada uma se lisonjeia de que essa unidade se fará em seu proveito e nenhuma admite a possibilidade de fazer qualquer concessão, no que respeita às suas crenças? O que alimenta o antagonismo entre as religiões é a ideia, generalizada por todas elas, de que cada uma tem o seu deus particular e a pretensão de que este é o único verdadeiro e o mais poderoso, em luta constante com os deuses dos outros cultos e ocupado em lhes combater a influência.”

Mas como se dará esta união? “Demolindo nas religiões o que é obra dos homens e fruto de sua ignorância das leis da natureza. Afastando os acessórios, o Espiritismo prepara as vias para a unidade.” (A Gênese, 3ª parte, cap. XVII, item 32).

Kardec entendia que a propagação do Espiritismo se daria em quatro etapas:

  1. O da curiosidade, no qual os Espíritos batedores representaram o papel principal, visando chamar a atenção e preparar os caminhos.
  2. O da observação, que também pode ser chamado de período filosófico. O Espiritismo é aprofundado e se depura; tende para a unidade de doutrina e se constitui em ciência.

Virão a seguir:

  1. O período de admissão, no qual o Espiritismo ocupará um lugar oficial entre as crenças universalmente reconhecidas.
  2. O período de influência sobre a ordem social. Então, sob a influência dessas ideias, a Humanidade conquistará um novo perfil moral. Essa influência é, desde já, individual. Mais tarde agirá sobre as massas, para a felicidade geral.

Mas por que tão devagar? Porque “entre muitos adeptos, existe apenas uma crença latente. Nuns, o medo do ridículo; noutros, o receio de se prejudicar pelo choque de certas susceptibilidades, impedem-nos de proclamar bem alto suas opiniões.” (Revista Espírita, set. 1858).

“Há o recuo ante o sacrifício do bem-estar, ante o receio de comprometer os interesses materiais, ante o medo do ‘que dirão?’; há o ato de ser-se abatido por uma mistificação, tendo como consequência, não o afastamento, mas o esfriamento; há o de querer viver para si e não para os outros, o ato de beneficiar-se da crença, mas sob a condição de que isso nada custe.” (Obras Póstumas: os desertores).

É culpa dos espíritas que o Espiritismo não cresce na velocidade que deveria! De quem é a obrigação de propagar a ideia espírita? De expor e argumentar em favor da reencarnação e da mediunidade? Dos opositores não é.

Os espíritas têm uma missão, explicitada em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. XX, item 4): “Ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos. Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças.

Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo! É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. Faz-se mister que regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!

Marcha, pois, avante, falange imponente pela tua fé! Diante de ti os grandes batalhões dos incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios do Sol. Sim, em todos os pontos do globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos.

Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! O arado está pronto; a terra espera; arai!

Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! Entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade.”

Ao nosso lado temos o amparo dos Espíritos amigos, a fé raciocinada, os fatos científicos, a teoria bem elaborada e exposta nas obras básicas… o que está faltando para que o Espiritismo seja a crença universal? Faltam os espíritas.

Estudemos para compreender a teoria e propagá-la com maior convicção e preparo. Já perdi as contas de quantas vezes me peguei explicando e expondo o Espiritismo numa festa, num barzinho, nos locais mais aleatórios, a pedido de colegas e até mesmo desconhecidos. As pessoas estão sedentas por isso, confiem em mim – elas querem crer, mas ainda não encontraram um alimento espiritual em harmonia com suas necessidades intelectuais. “Mostrai-lhes uma âncora de salvação e a ela se agarrarão pressurosamente” (O Livro dos Espíritos, Q. 148). Ide e pregai!

O que será de agora em diante? Está em nossas mãos.

Caio Silva de Almeida

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