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Até quando?

Lendo o livro Há Dois Mil Anos – psicografado pelo Chico Xavier, que conta a história de uma das encarnações de Emmanuel como Públio Lêntulo, um importante senador romano na época de Jesus – fiquei extremamente impressionado quando Públio negou o chamado recebido pessoalmente de Jesus. Como alguém poderia negar um chamado do Cristo?
Pensando sobre isso, tempos depois, li o trecho de João 14:23: “Se alguém me ama, obedecerá à minha palavra”. A conclusão que se segue é: não negamos Jesus diariamente? Toda vez que não seguimos seus mandamentos, estamos negando-o diariamente.

Somos convocados, somos chamados a fazer muito mais. Mas quantos de nós não ficamos acomodados, sem empreender grandes mudanças em nós mesmos? Quantos de nós não somos o que Kardec chamou de “espíritas imperfeitos”? São aqueles que, no Espiritismo, “compreendem-lhe a parte filosófica; admiram a moral daí decorrente, mas não a praticam. Insignificante ou nula é a influência que lhes exerce nos caracteres. Em nada alteram seus hábitos e não se privariam de um só gozo que fosse. O avarento continua a sê-lo, o orgulhoso se conserva cheio de si, o invejoso e o cioso sempre hostis. Consideram a caridade cristã apenas uma bela máxima” (LM, cap. III, item 28). Ou seja, têm o conhecimento, mas não o fazem germinar em si através de suas obras de mudança individual.

Isso nos leva à questão: o que é o verdadeiro espírita? Kardec diz, em diversas ocasiões (especialmente em O que é o Espiritismo?), que o Espiritismo é uma ciência e que, como tal, exige estudo aprofundado por anos. Alguém pode declarar-se engenheiro civil só porque vai com certa periodicidade às aulas na faculdade? Não. É preciso estudar seriamente, passar nas provas, botar em prática construindo prédios, entre outras atividades. Da mesma forma, o verdadeiro espírita precisa estudar e, especialmente, botar em prática. Frequentar semanalmente seu centro e assistir à palestra já é um começo, mas está longe de ser o suficiente. Jesus já nos exortou: “Espíritas! Amai-vos, este é o primeiro ensinamento; instruí-vos, este é o segundo. (…) Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provação humana” (ESE, cap. VI, itens 5 e 6).

Especialmente nós, espíritas, com o conhecimento que temos: “A quem muito foi dado, muito será exigido” (Lc 12:48). André Luiz, ao presenciar uma reunião de socorro aos irmãos espirituais em sofrimento, disse: “Se fosse concedida à criatura vulgar uma vista de olhos, ainda que ligeira, sobre uma assembleia de espíritos desencarnados, em perturbação e sofrimento, muito se lhes modificariam as atitudes na vida normal” (Os Mensageiros, cap. 43). Ele próprio passou oito anos no Umbral e nos alerta: “Oh! amigos da Terra! Quantos de vós podereis evitar o caminho da amargura com o preparo dos campos interiores do coração? Suai agora para não chorardes depois” (Nosso Lar, cap. 1). Deus nos deu a dádiva de permitir que as testemunhas oculares do além-túmulo venham nos contar as consequências de nossas ações, da vida que levamos (GN, cap. I, item 61). Sabemos, mas as ignoramos. Até quando? Quantas encarnações mais, quanto sofrimento mais serão necessários para aprendermos?

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações” (ESE, cap. XVII, item 4). “São aqueles que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e aceitam todas as suas consequências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar seus breves instantes para avançar pela senda do progresso, única que os pode elevar na hierarquia do mundo dos Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e coibir seus maus pendores” (LM, cap. III, item 28).

Sempre podemos vencer nossas más inclinações, “por vezes fazendo esforços bem pequenos. O que lhes falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços!” (LE, Q909). O que estamos esperando? Até quando?

Caio Silva de Almeida

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