Ninguém tem alma
Um dos maiores equívocos de muitas religiões é o ensino de que temos alma. Não temos alma. Ninguém tem alma. Somos almas! Quem sente, pensa, ama, odeia, aprende e evolui é a alma, que se manifesta através de um corpo espiritual, quando livre. Quando encarnada, manifesta-se também através de um corpo físico.
Assim pensando, não devemos dizer: minha alma, meu espírito, e sim eu. Quem ama, odeia, aprende, sofre ou tem alegria é a alma, a individualidade eterna.
Quando deixa a vida física, pelo fenômeno da morte, a alma fica apenas com o corpo espiritual, conforme foi amplamente demonstrado por Jesus, durante os quarenta dias em que se manifestou na Terra depois da morte do seu corpo físico.[i] Note-se que no texto citado não há referência à alma de Jesus, mas, a Jesus, pois a alma é invisível. Jesus apresentava-se a todos que o viam com o seu corpo espiritual, como nós nos apresentamos durante o sono do nosso corpo físico. Assim também nós nos apresentaremos depois da morte.
O mesmo argumento pode ser usado na aparição de Jesus aos caminheiros de Emaús: E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles; mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não reconhecessem.
Chegando à aldeia: E eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que estando com eles à mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu-o e lhes deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes.[ii]
Àqueles que perguntarem que destino fora dado ao corpo físico através do qual Jesus se apresentara até a sua morte, levantamos a hipótese de desmaterialização, fenômeno amplamente demonstrado por experiências levadas a efeito por cientistas de renome, conforme artigo “O Sudário”, de nossa autoria.
A tese da ressurreição da carne, além de ser anticientífica, foi combatida pelo Apóstolo Paulo na sua 1ª. Carta aos Coríntios (Cap. 15: 50). O Apóstolo tinha profunda convicção da existência do corpo espiritual, pois que conversara com Jesus materializado às portas de Damasco.
Constatamos a veracidade do deslocamento da alma com o seu corpo espiritual no Novo Testamento, conforme relato de Paulo, pois ao dormirmos, deixamos o corpo físico e, num fenômeno semelhante ao da morte, ficamos apenas com o nosso corpo espiritual, como os espíritos desencarnados. Isso é perfeitamente demonstrado no Novo Testamento: Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um varão da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos. E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o Evangelho.[iii]
Por esse relato, entende-se perfeitamente que aquele homem adormeceu, desejando que Paulo passasse pela sua cidade e, deixando seu corpo físico dormindo, foi a Troas, apenas com o seu corpo espiritual, encontrar-se com Paulo.
A existência do corpo espiritual é amplamente demonstrada no Novo Testamento, mas não mereceu destaque em estudos teológicos nas várias correntes cristãs, ficando a interpretação de determinados fenômenos por conta da criatividade popular. A aparição de seres desencarnados, normalmente nominados como almas do outro mundo nada mais é do que a aparição de almas imortais, através apenas do seu corpo espiritual.
O espírito que conversou com o centurião Cornélio, dizendo-lhe que mandasse chamar Pedro, apresentou-se como um homem, conforme relatado em Atos dos Apóstolos: E eis que diante de mim se apresentou um varão com vestes resplandescentes, e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas estão em memória diante de Deus. Envia, pois a Jope, e manda chamar Simão, o que tem por sobrenome Pedro; este está em casa de Simão, o curtidor, junto do mar, e ele, vindo, te falará.[iv]
Notemos que o centurião não disse um anjo, uma alma, um espírito, mas um varão com vestes resplandescentes, o que significa que ele viu uma alma ou um espírito, manifestando-se com seu corpo espiritual, com forma perfeitamente humana.
Vemos, assim, que é mesmo necessário para muitas pessoas um ajustamento na sua forma de se expressar relativamente a um desencarnado. É impróprio dizer, referindo-se a um desencarnado que se apresente numa reunião mediúnica: O espírito do fulano esteve ou está aqui, mas deve-se dizer: o fulano está presente ou esteve aqui.
Em edições antigas, de mais de quarenta anos, ainda encontravam-se em capas de livros espíritas psicografados: Pelo Espírito de André Luiz, de Emmanuel… Hoje, há um entendimento mais claro, em que aparece simplesmente o nome do Espírito autor.
[i] Atos, capítulo 1.
[ii] Lucas, 24.
[iii] Atos, 16: 9 e 10.
[iv] Atos 10: 31 e 32.
José Passini
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