Cristo
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo I, Item 3.
Conforme tivemos a oportunidade de mencionar em nosso artigo anterior, O Evangelho Segundo o Espiritismo, publicado em 1864, traz, em seu Capítulo I, a mensagem sublime de Jesus: “Eu não vim destruir a Lei…”, conforme registrado pelo evangelista Mateus (5:17-18). Se fizermos uma breve retomada no tempo, verificaremos que os livros de Moisés (destacadamente Levítico e Números) relatam que, ao subir ao Monte Sinai, Moisés recebeu os mandamentos da Lei de Deus (os Dez Mandamentos) e, juntamente com eles, escreveu 613 leis civis destinadas a disciplinar os homens. À época, esses homens, ainda muito primitivos, praticavam atos impulsivos e impensados.
Essas leis escritas por Moisés eram civis, humanas e mutáveis ao longo do tempo, enquanto as Leis de Deus são imutáveis, válidas para todos os tempos e para todos os mundos. Moisés apresentou essas leis humanas, atribuindo-as à Divindade para lhes conferir autoridade, retratando Deus como uma figura autoritária e severa, que castigava para garantir o respeito às normas.
Assim, começamos a compreender a vinda de Jesus, que veio revelar o Pai. Sem “destruir a Lei…”, Ele deu-lhe a verdadeira interpretação e sentido. Afinal, a humanidade já havia progredido e precisava entender que a Lei é de amor, e que Deus é um Pai amoroso, que perdoa e sustenta a vida. Jesus reinterpretou as leis mosaicas no verdadeiro sentido da vida, resumindo-as em: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.” Ele condenou as práticas exteriores e as falsas interpretações, afirmando que, nessa síntese, se encontravam toda a lei e os profetas.
Jesus, o Cristo, trouxe as primeiras lições de humildade e simplicidade. Mais tarde, revelou aos homens que a vida é uma jornada evolutiva, realizada por meio de múltiplas reencarnações. Ele afirmou: “Meu reino não é deste mundo” (João, 13:36), “Há muitas moradas na casa de meu Pai” (João, 14:2), “Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Mateus, 16:24), e “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial” (Mateus, 5:48).
Ao longo de nossa jornada evolutiva, precisaremos cumprir integralmente a Lei de Deus, ou seja, vivê-la em plenitude sobre toda a Terra. A fraternidade e a solidariedade deverão florescer nos corações, pois assim quer a Lei de Deus. Entretanto, ao vir o Divino Mestre dar à Lei o seu verdadeiro sentido, não O compreendemos. Recusando o amor verdadeiro, rejeitamos Seus ensinamentos e Lhe oferecemos a cruz… um paradoxo profundo: Ele nos doando amor, e nós Lhe oferecendo a cruz!
Os benfeitores espirituais nos recordam que muitas das mensagens de Jesus permaneceram com um sentido velado, aguardando o avanço da ciência para serem compreendidas. Outras necessitam de uma chave interpretativa para revelar seu significado profundo. É a Doutrina Espírita que nos proporciona extrair da letra o espírito, permitindo-nos entender, em um sentido lato sensu, a maravilha da vida com Jesus.
Que possamos refletir sobre Jesus e fazer de cada dia um novo nascimento do Cristo em nós — com Ele, com os outros e com toda a humanidade!
Referências Bibliográficas
[1] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo I, Item 3.
[2] A Bíblia Sagrada: Evangelho de Mateus 5:17-18; 16:24.
[3] A Bíblia Sagrada: Evangelho de João 13:36; 14:2.
Geraldo Sebastião Soares
Página 10